A estrela na mira da PF

1 de fevereiro de 2008 10:17

O PT e o empresário Mauro Dutra, dono da empresa de informática Novadata e amigo pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, estão entre os alvos da segunda etapa do inquérito da Polícia Federal que investiga corrupção nos Correios. Entregue ao Ministério Público para oferecimento de denúncia, o relatório final do inquérito indicia oito pessoas por corrupção e formação de quadrilha e pede a abertura de dez novas linhas de investigação contra outros suspeitos.

A PF ainda não tem prova cabal do envolvimento de Dutra nas irregularidades nos Correios, conforme destaca no relatório o delegado Daniel França, encarregado do inquérito. Mas seu nome está entre os novos alvos em razão de indícios de que teria feito acertos com servidores de pelo menos duas áreas da estatal para vencer licitação. Consta ainda no documento que o empresário teria usado seu prestígio para obter reajuste de R$ 5,5 milhões no valor de outro contrato, de junho de 2002, para serviços na área de informática, cujo montante original era de R$ 98 milhões.

Ouvido pela PF, Dutra negou as acusações, mas o delegado preferiu aprofundar a investigação. Relatórios da Controladoria-Geral da União (CGU) mostram que, além dos indícios de irregularidades nesses dois contratos, há suspeita de favorecimento à Novadata na concorrência nº 13/2004. Em depoimento, o ex-chefe do Departamento de Administração e Contratações dos Correios Maurício Marinho disse que Dutra negociou pessoalmente favores com a Diretoria de Tecnologia da estatal.

O empresário está no exterior e ainda não leu o relatório final da PF. Mas sua assessoria informou que o documento não traz nenhuma novidade ou dado que incrimine o empresário. Segundo a assessoria, a PF, por não encontrar provas de irregularidades nos contratos de Dutra com os Correios, optou por pedir o aprofundamento das investigações, que a seu ver também não levarão a nada. Ressalta ainda que o TCU já realizou um pente-fino e nada encontrou de irregular nos contratos da Novadata com os Correios.

Fraude
Uma das áreas em que Dutra teria agido, conforme o relatório, seria a de Tecnologia, comandada por Eduardo Medeiros, indicado pelo PT, que também será alvo de inquérito nesta segunda fase. Segundo o delegado, durante as investigações, vieram à tona informações sobre fraude a licitações e atos de corrupção no âmbito da Diretoria de Tecnologia, sobretudo em relação à aquisição de microcoletoras para a estatal. Os depoimentos de Marinho e do empresário José Fortuna Neves, da Intermec, confirmam o esquema de fraudes no certame.

Após dois anos e sete meses de investigações, a versão final do inquérito dos Correios foi enviada à Justiça no fim de dezembro. Foram encontrados indícios de irregularidades em mais de 250 contratos referentes ao período de 2000 a 2005, que envolviam recursos no montante de R$ 8,2 bilhões. França pediu o desmembramento da investigação para aprofundar dez outras linhas de suspeitas.

Nos novos inquéritos, serão investigados contratos bilionários como o da Rede Postal Noturna e o do Correio Híbrido Postal, que somam mais de R$ 5 bilhões. A compra de cofres e de medicamentos, além de contratos com empresas de publicidade, com a montadora de automóveis Fiat e com as empresas Caviglia e Autrotac também estão relacionados.

Propina
A investigação começou em maio de 2005 depois da divulgação de um vídeo em que Marinho aparece recebendo propina de empresários e comentando como funcionava o esquema de corrupção na estatal, supostamente montado pelo PTB. O escândalo foi o estopim da denúncia do mensalão, que provocou a maior crise política do primeiro mandato de Lula.

O inquérito da PF revelou a existência de fisiologismo e corrupção generalizados na estatal e em toda a estrutura do governo, pelo qual os partidos usam dinheiro desviado de obras e compras públicas para financiar suas campanhas. Além de Jefferson e Marinho, a PF indicia mais seis pessoas por corrupção ativa e passiva, fraude em licitações e formação de quadrilha. Entre elas está o ex-diretor de Administração dos Correios Antônio Osório Batista, que seria o elo entre o PTB e a estatal.