A importância dos veículos de imprensa no combate às práticas de corrupção
Uma das iniciativas dos Delegados Federais presentes no VII CNDPF foi a discussão de formas de aprofundar a interlocução com a sociedade, por meio, sobretudo, do diálogo com os veículos de comunicação. O relacionamento da Polícia Federal com a imprensa, hoje, segundo avaliação geral, passa por dificuldades. Apenas uma maior integração possibilitará resultados concretos no combate à corrupção.
Parte dos problemas nessa relação é devida à própria natureza da atividade do Delegado de Polícia Federal. Muitas investigações são mantidas em sigilo durante longos períodos – o que impede o repasse de informações para jornalistas. Porém, na fase de deflagração das operações, é comum que Delegados Federais concedam entrevistas coletivas à imprensa. Conciliar o sigilo preliminar com a divulgação posterior é um dos desafios.
O painel intitulado ”Relação da PF com a Imprensa” aconteceu no fechamento da programação de terça-feira (21/03). Os jornalistas Leandro Mazzini, da Coluna Esplanada, e Denise Rothenburg, da Coluna Brasília-DF (Correio Braziliense), debateram com os Delegados Federais Tânia Fernanda Prado Pereira e Edson Garutti, com a mediação do Diretor Regional da seccional da ADPF no Amazonas, Pablo Oliva Souza.
Em sua exposição, Oliva afirmou que o “encontro” da Polícia Federal com a imprensa é tão frequente que os meios de comunicação acabam por assumir o papel de construção da imagem que a instituição assume perante a população. “Quando as investigações passam, o último controle quem faz é a mídia”, pontuou Oliva.
A mesma avaliação foi feita pela Delegada Federal Tânia Prado, Diretora Regional da seccional da ADPF em São Paulo. Na visão dela, ao mesmo tempo em que auxiliam a Polícia Federal na difusão de informações importantes, os meios de comunicação atuam para dar equilíbrio ao processo democrático.
“Hoje, vivemos o ápice da democracia. A imprensa tem o papel fundamental de levar ao cidadão as informações de maneira transparente, com a análise e as críticas para tanto”, concluiu Tânia.
IMPRENSA COM A PALAVRA
A uma plateia de cerca de 200 Delegados Federais, a jornalista Denise Rothenburg alertou para a necessidade de cuidado com a informação, principalmente em virtude da velocidade com que as notícias são propagadas. “Hoje, entrevistas da PF são transmitidas ao vivo, e, enquanto vocês estão expondo, já está no Brasil inteiro”, alertou a jornalista.
O grande problema, para Denise, é o risco de se repassar informações infundadas. “É preferível ter a maior transparência possível antes de deixar versões erradas ganharem fôlego na mídia”, comentou.
Já Leandro Mazzini fez uma ponderação sobre o consumo de notícias na internet, sobretudo em blogs. Segundo ele, é preciso verificar quem são as pessoas por trás das informações, que nem sempre são, de fato, jornalistas.
“Muitos que se passam por jornalistas não são realmente jornalistas: são blogueiros, por vezes muito lidos, mas com informações distorcidas. Não são jornalistas para divulgar notícia, mas atacar quem lhes interessa”, ilustrou Mazzini.
O comunicador também criticou o relacionamento mantido pela comunicação social da Polícia Federal com a imprensa. “Tenho dificuldade com a Comunicação Social da Polícia Federal. Estou pedindo informações que não me respondem e nem vão responder. O que devo noticiar se não me respondem?”, questionou.
O jornalista Diego Escosteguy, editor-chefe da Revista Época, embora tenha participado de painel sobre combate à corrupção na quarta-feira (22/03), agradeceu aos Delegados Federais pela abertura de possibilidade de interlocução no VII CNDPF e também abordou o papel dos profissionais de imprensa.
“Os jornalistas estão sujeitos a intempéries de uma profissão muito difícil. Precisamos de mais ocasiões como essa. Isso é bom tanto para o trabalho de vocês, como para o nosso trabalho”, afirmou Escosteguy.
REPENSAR A COMUNICAÇÃO SOCIAL DA POLÍCIA FEDERAL
Também presente no painel sobre imprensa do VII CNDPF, o Delegado Federal Edson Garutti fez reflexões a respeito das normas da Polícia Federal que regulam o contato dos integrantes da corporação com a imprensa.
De acordo com ele, toda a atividade de comunicação social deve passar por uma reavaliação, tendo em vista os novos tempos. “A proibição de que Delegados Federais falem com a imprensa merece ser repensada. Não quero colocar se isso é certo ou errado, mas merece ser repensado”, disse Garutti.
Hoje, há somente duas possibilidades para que o Delegado Federal conceda entrevistas aos meios de comunicação: com autorização de superior ou como representante de entidade de classe. “Hoje, se um Delegado fala com a imprensa fora dessas hipóteses, pode ser punido internamente”, explicou.
O Delegado Federal levantou alguns questionamentos que devem pautar uma eventual reflexão da direção da Polícia Federal a respeito da temática: como deve ser a centralização da comunicação da Polícia Federal? Deve haver porta-voz na unidade ou o Delegado que desencadeia a operação fica responsável por comunicá-la à imprensa?
Para Garutti, a necessidade de um maior contato da Polícia Federal com a imprensa se justifica pelo fato de serem os veículos de comunicação os “olhos” e “ouvidos” da sociedade. “Temos de fazer workshops explicando aos jornalistas o que é polícia judiciária, o que é inquérito policial, esses termos do nosso dia a dia que nem sempre estão claros para todos”, sugeriu.
Uma das dicas que ele dá aos colegas para o diálogo com os jornalistas é a assertividade. “Não é fácil o relacionamento com a imprensa. Temos de ser certeiros. É vital para a nossa sociedade saber o que a PF faz. Isso ajuda no combate à corrupção. Ganhamos força quando temos como aliado a democracia e a liberdade de expressão”, finalizou Garutti.