A morte de Badri
A Polícia Federal brasileira pedirá à embaixada da Inglaterra o atestado de óbito do magnata georgiano Badri Patarkatsishvili, 52, encontrado morto anteontem em sua mansão em Londres.
Badri estava sendo investigado pelas autoridades do país pela suposta ligação com a parceria Corinthians/MSI. Para a PF, ele era o número dois na hierarquia, ao lado do israelense Pini Zahavi. Estava acima de Kia Joorabchian, que presidia a MSI, e abaixo do russo Boris Berezovski, seu parceiro de negócios, maior investidor, considerado o número um.
Segundo as investigações, Badri era um dos encarregados de decidir para que clubes iriam os recursos. Participou das negociações de atletas, entre eles Carlos Alberto, hoje no São Paulo. Era investidor da Devetia, uma das cinco “offshores” que abasteciam a parceria, e da Global Soccer Investments, que possui jogadores.
A polícia londrina divulgou ontem que, aparentemente, a morte de Badri ocorreu por “causas naturais” – a televisão pública da Geórgia diz que ele sofreu um ataque cardíaco.
Em 2004, o ex-presidente corintiano Alberto Dualib levou a Tiblisi, capital georgiana, comitiva com vários dirigentes, entre eles o atual presidente do clube, Andres Sanchez, para uma visita ao castelo de Badri.
Em depoimento no processo em que é acusado de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, Dualib contou ter se hospedado no castelo. Falou num jardim de 200 hectares, no qual é necessário um carrinho usado em disputas de golfe para se locomover.
Em 2001, Badri comprou o maior time de futebol do país, o FC Dinamo Tblisi. Além disso, foi eleito presidente do Comitê Olímpico da Geórgia.
O Corinthians fez um acordo de intercâmbio de jogadores com o Dinamo Tblisi. O atacante Rafael Silva falou misérias sobre o time. Treinava num terrão e ficava horas sem luz no alojamento por causa de um racionamento na Geórgia.
Relatório do Gaeco, órgão do Ministério Público de São Paulo, apontou Badri como um dos investidores da MSI. Ele, no entanto, não se tornou réu em processo na Justiça Federal.
A notícia de sua morte provocou trocas de telefonemas entre conselheiros corintianos em busca de mais detalhes. Alguns ligaram para Dualib.
Badri e Berezovski foram dois dos maiores beneficiados com as privatizações das estatais russas no governo do ex-presidente Boris Ieltsin.
Em 1997, eles participaram de um negócio nebuloso: a privatização da Sibneft Oil Company, a maior empresa petrolífera do país. Badri ajudou a intermediar a venda da companhia, que pertencia a Roman Abramovich, por US$ 100 milhões, a Berezovski. Em seguida, descobriu-se que a Sibneft valia bilhões. Meses depois, Abramovich deu a Badri US$ 3 bilhões para a RusAL.
Com a queda de Ieltsin, Vladimir Putin assumiu o poder no país e fechou as portas para a dupla. Ameaçados de prisão, os dois deixaram o país.
“O Boris não quis participar do negócio, mas indicou um amigo dele na Geórgia, o Badri, que é de uma fortuna imensa. É uma coisa de louco”, declarou Dualib três anos atrás.
Nos últimos meses, Badri dizia temer ser assassinado. Ele era acusado pelo governo da Geórgia de arquitetar um golpe de Estado. Em dezembro, denunciou à agência norte-americana de notícias Associated Press uma gravação em que uma autoridade do Ministério do Interior da Geórgia encomendava seu assassinato.