A necessária blindagem aos federais

5 de junho de 2017 15:51

São preocupantes os sinais de que a troca de comando no Ministério da Justiça tenha como objetivo central aumentar a capacidade de interferência do governo na Polícia Federal. Trata-se de uma das únicas instituições nacionais que ainda inspiram orgulho nos brasileiros, fundamentalmente por seu papel no combate à corrupção e ao crime organizado. Por isso, jamais poderá estar subordinada a outros interesses que não os de cumprir sua missão de forma independente, responsável e transparente.

 

A Polícia Federal é uma instituição de Estado, não de governo. Essa deveria ser a tônica das escolhas para as suas várias esferas de comando. Durante a posse do novo comandante da PF no Rio Grande do Sul, o ex-ministro do STJ Gilson Dipp propôs, de forma extremamente pertinente, que os mandatos dos diretores-gerais tivessem duração fixa, o que minimizaria as tensões geradas na esfera política e daria ainda mais serenidade à corporação.

 

Ganharia a democracia brasileira se a Polícia Federal tivesse um papel mais central nos acordos de delação. Hoje, é posta de lado, concentrando excessivo — e às vezes mal usado — poder nas mãos da Procuradoria-Geral da República — como ocorreu no inexplicável acordo ultrapremiado de Joesley Batista.

 

Como bem lembrou em entrevista a ZH o superintendente da PF no RS, Ricardo Saadi, não faltam missões à Polícia Federal, que executou no RS o maior número de operações no universo dos Estados da federação. Exatamente por isso, os desafios são grandes.

 

Um dos maiores é o de se manter firme na obediência à lei e no combate aos eventuais exageros, como o observado na divulgação prematura de informações na Operação Carne Fraca. Uma exceção, mas que serviu de alerta para os desvios que o açodamento pode causar.

 

No momento em que o Brasil passa pela maior faxina ética da sua história, preservar e fortalecer a Polícia Federal é um dever fundamental de qualquer governo e de toda a sociedade. A troca constante de ministros da Justiça gera instabilidade e não contribui em nada para que crimes sejam punidos de forma rápida, justa e exemplar.

 

Confira o editorial "Opinião da RBS", publicado no jornal Zero Hora.