A quadrilha dos Correios
Ao investigar irregularidades ocorridas nos Correios, que levaram à denúncia do mensalão em 2005, a Polícia Federal não apenas confirma a existência de um esquema de captação de propina em favor do PTB como também sugere que há indícios de “possível atuação de uma quadrilha comandada por pessoas ligadas ao Partido dos Trabalhadores, por intermédio de Eduardo Medeiros” – diretor do órgão indicado pelo PT.
A PF vai apurar ainda se empresas como a montadora Fiat pagaram propinas em licitações. Por meio de sua assessoria de imprensa, a PF disse que não há confirmação sobre o suposto pagamento à Fiat, pois indícios estão sob investigação.
O relatório final da PF sobre os Correios indicia oito pessoas pela prática de crimes -entre as quais o presidente do PTB, Roberto Jefferson, sob acusação de formação de quadrilha- e pede a abertura de dez novos inquéritos para averiguar outras suspeitas de ilegalidades.
Os desdobramentos do caso foram requeridos em dezembro pelo delegado Daniel França, da Divisão de Repressão a Crimes Financeiros da PF.
Ex-diretor de Tecnologia, Eduardo Medeiros disse à CPI dos Correios que foi indicado para o cargo pelo ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira. O que chamou a atenção da PF sobre Medeiros foram os depoimentos do ex-servidor Maurício Marinho e do empresário José Fortuna Neves.
Marinho protagonizou o escândalo dos Correios, em maio de 2005, quando a revista “Veja” divulgou o conteúdo de fita de vídeo em que ele é flagrado descrevendo a empresários o esquema de arrecadação de propina ao PTB. A revista apresentou pontos do relatório final na edição desta semana.
Marinho era subordinado a Antonio Osório Batista, diretor de Administração, que tinha como assessor Fernando Godoy, ambos indicados por Jefferson. Flagrado recebendo R$ 3.000 em propina, Marinho passou a colaborar com as investigações. O estouro do caso atingiu o PTB, e Jefferson denunciou o mensalão à Folha.
Marinho disse em depoimento que recebera de Edilberto Petry, assessor do então diretor Medeiros, a incumbência de fazer uma proposta ao empresário Neves, na ocasião representante da Intermec.
Chegou a rascunhar uma “saída honrosa”: Neves seria desclassificado em licitação para compra de leitoras óticas. Em troca ganharia outra para fornecer outros equipamentos à estatal. Em depoimento, Neves confirmou a proposta, mas negou pagamento. Ele perdeu a licitação das leitoras ótica.
A PF vai instaurar inquérito para apurar se a Fiat teria ou não contribuído para o esquema instalado nos Correios pelo PTB, conforme indícios surgidos em investigação na estatal concluída em dezembro de 2007. A montadora nega.
A Fiat aparece em arquivo do computador de Fernando Godoy, assessor da Diretoria de Administração entre 2004 e 2005. Trata-se de uma planilha que relaciona, segundo interpretação da PF e do Ministério Público confirmada por depoimentos, o nome de empresas, objetos e valores de contratos firmados com a ECT, quantia estimada para propina e o montante que iria para o PTB.
No caso da Fiat, conforme depoimento de Marinho, teria havido compra superfaturada de furgões. Os veículos teriam sido adquiridos por R$ 34 mil, quando poderiam ser comprados, segundo ele, ser adquiridos em Brasília por R$ 27,5 mil.
Marinho afirmou que a propina seria de R$ 1.000 para cada um dos cerca de mil veículos adquiridos. A planilha de Godoy confirma o valor de propina de R$ 1 milhão associado ao nome da Fiat e a cifra de R$ 50 mil na coluna “agrem”, que segundo investigação significa agremiação, no caso o PTB.
Em outro inquérito o delegado Daniel França pretende investigar se a empresa Caviglia, produtora de móveis, fez pagamentos ilegais ao esquema.
Planilhas apreendidas nos computadores de Godoy e Marinho são um dos mais fortes indícios do esquema instalado pelo PTB na estatal, diz a PF.