Abadía: PF invadiu casa por engano

16 de outubro de 2007 09:40

O erro se deu porque a polícia não apurou que o homem de confiança de Abadía, Cesar Daniel Amarilla, não morava na residência desde 28 de novembro de 2006 – teria mudado para Porto Alegre. Também não sabia que, em abril, a casa foi vendida e ali moravam um casal e seus dois filhos, de 10 e 12 anos.

Segundo relatos das vítimas e vizinhos, os federais, chefiados por um jovem delegado, arrombaram portas e apontaram fuzis para família. Também teriam jogado uma bomba no banheiro onde a empregada se escondia. A investida durou uma hora e meia – período em que as explicações do casal, que nada sabia do tal chefe Abadía, não surtiram nenhum efeito. Um parente afirma que as crianças foram obrigadas a ficar por mais de meia hora com os braços erguidos e o mais novo, em choque, não conseguia abaixá-los quando o delegado permitiu.

Até hoje os meninos estão assustados, não conseguem sair sem ficar de mãos dadas com um conhecido , disse o avô, que pediu para a família não ser identificada. Depois a PF tentou se desculpar, reconheceu o erro, mas uma coisa dessas não tem reparo.

O episódio foi relatado no dia 15 de agosto à 6ª Vara Criminal da Justiça Federal pela administração do condomínio. Dois dias depois, o juiz do caso, Fausto Martin de Sanctis, formalizou um pedido de explicações à Superintendência da PF, mas não obteve nenhuma resposta. Por isso, oficiou novo pedido de esclarecimento ao Ministério Público Federal e à PF, na quinta-feira.

O magistrado, no entanto, ponderou que a operação era delicada, envolvia criminosos tidos como poderosos e violentos e era compreensível que os policiais agissem com rigor. Por mais que se tenha treinamento, é uma situação muito tensa – o que não justifica ameaçar crianças. Mas essa é uma versão da família, é preciso apurar como foi a ação , disse de Sanctis.

O setor de Comunicação Social da PF confirmou que existe uma investigação interna em andamento e negou o uso de bombas ou que os policiais tenham agido com violência. Foi feita uma perícia no local para apurar se houve ou não uso de bomba e deu negativo. O uso da força ocorre na medida da necessidade, mas apontar arma para criança é uma coisa que a PF não faz , afirmou o delegado Humberto Prisco Neto, porta-voz da corporação.

Procurada, a administração do condomínio informou que sua manifestação se limitava ao ofício enviado à Justiça. A família, porém, procurou a Corregedoria da Polícia Federal e entrou com ação indenizatória contra a União. Fiz o que podia como cidadão. Reclamei na Corregedoria e na Justiça. Minha preocupação agora é retomar a vida com meus filhos , disse o pai ao Estado.

Foi erro crasso, diz criminalista

A busca da PF na casa de inocentes foi classificada como um erro estúpido, crasso e primário pelo criminalista Mario de Oliveira Filho, coordenador da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo (OAB-SP).

Ninguém percebeu que o traficante não estava mais lá, 8 meses depois, porque o trabalho de investigação não foi feito como deveria. Isso demonstra incompetência e desleixo. Não fizeram a mera observação campal.

Para Oliveira Filho, os policiais também se mostraram despreparados ao insistirem por tanto tempo que a família tinha envolvimento com Abadía. Fico imaginando o que é para um homem de bem passar por isso, e, o pior, ter de explicar para os filhos que quem fez o que fez é responsável por sua segurança. Podia acontecer com qualquer família.