Abadía revela que dinheiro do tráfico entrava de carro no Brasil

15 de agosto de 2007 10:59

As novas revelações de Abadía fazem parte de um acordo com a Polícia Federal e com o Ministério Público Federal: o traficante esclarece sua atuação no País e as duas instituições não se opõem ao pedido de extradição feito pelos Estados Unidos. O advogado de Abadía, Sérgio Alambert, já dá como certa a extradição e viajou ontem para Washington para fechar parceria com o escritório Jeffrey Lichtman, especializado na defesa de traficantes.

Segundo o traficante, o dinheiro vinha da Colômbia para a Venezuela de avião. Era então transferido para carros, que cruzavam a fronteira por Roraima até Boa Vista. O montante era colocado em malas, misturado com roupas, e novamente transportado em aviões até o Sudeste e Sul do País, onde a quadrilha formada por Abadía no Brasil se instalou.

Em geral, o dinheiro era destinado aos comparsas colombianos do traficante, como os irmãos Victor e Jaime García, que administravam a fortuna nas bases em de Campinas e de Curitiba, respectivamente.

Cabiam aos brasileiros lavar o dinheiro comprando bens e criando empresas de fachada. Eles também providenciavam a falsificação de documentos. O piloto André Luiz Teles Barcellos foi citado pelo colombiano como seu braço direito no País. Foi Barcellos quem recebeu Abadía em Fortaleza (CE) quando ele chegou ao Brasil e o levou de avião até Barretos, no interior de São Paulo. A Justiça decretou a prisão temporária do piloto, sua mulher e filho.

Outro brasileiro destacado por Abadía foi Daniel Braz Marostica. Ele e a mulher, Ana Maria Stein, apresentaram o casal Abadía e Milareth Torres Lozano à médica Lorití Brueuel, responsável por algumas das cirurgias plásticas que transformaram o rosto do traficante. Marostica e Ana Maria figuram como proprietários das empresas do grupo em São Paulo, abastecidas com dinheiro do cartel. Ele também teria comprado as mansões de Abadía no Estado. A Justiça seqüestrou os bens rastreados do grupo, estimados em US$ 15 milhões, mas a PF crê que a quadrilha movimentou US$ 50 milhões.

Tido como duro, frio e calculista por quem acompanhou seus depoimentos, Abadía surpreendeu ao chorar diante de seu advogado no parlatório do Presídio Federal de Campo Grande (MS). Ele está extremamente abatido, está abalado e chorou ao falar da mulher e da família.

Segundo o advogado, Abadía disse temer que seus pais, primos, seus cinco filhos e três ex-mulheres sofram retaliações do cartel por sua eventual colaboração com o DEA. Todos moram na Colômbia e Abadía determinou que Alambert traga as ex-mulheres para visitá-lo, a partir de terça-feira, quando estará liberado para visitas e para o banho de sol.