Advogado revela acerto com cubanos

14 de agosto de 2007 09:20

O advogado não só fechou contrato com os dois como os acompanhou até o Consulado da Alemanha no Rio, onde ambos deram entrada em papéis e vistos para se transferirem para a Alemanha. Feito isso, o advogado retornou a Hamburgo, onde tem seu escritório. Seu projeto era voltar ao Rio quando toda a documentação estivesse pronta, para acompanhar os cubanos na viagem até seu novo destino.

Segundo informou no fim de semana a revista Der Spiegel, o dono da Arena, Ahmet ner, teria aceitado pagar entre 500 mil e 600 mil (entre R$ 13 milhões e R$ 17 milhões) a uma empresa intermediária, a Black Star, para negociar e colocar os lutadores ao seu dispor.

A operação, que já havia dado certo em dezembro, quando a mesma Arena Box Promotion contratou outros três lutadores de Cuba que treinavam em Caracas, na Venezuela, desta vez não funcionou. Cinco dias depois de assinar os papéis, Rigondeaux e Lara procuraram contato com a Polícia Federal e, após várias entrevistas, foram recambiados para Cuba.

Em entrevista ao Estado, ontem, o advogado confirmou que Rigondeaux e Lara desistiram, provavelmente, ao saber das ameaças que as suas famílias vinham sofrendo. Soubemos que as famílias deles em Cuba chegaram a perder casa e carro e houve a prisão de gente próxima ao círculo familiar deles, explicou Villena y Scheffler.

O consulado alemão do Rio confirmou que os dois cubanos estiveram lá para preencher a papelama que lhes permitiria trabalhar em Hamburgo. As revelações de Villena e a confirmação do consulado contradizem as informações dadas pelos dois boxeadores à Polícia Federal. Localizados em Araruama (RJ) no dia 3 de agosto, eles disseram que haviam pensado em fugir, mas em seguida desistiram do intento.

Os atletas começaram a se arrepender, segundo Villena, após falarem com a família por telefone, ainda em Araruama. Antes de eles serem pegos pela polícia, pelo menos Lara começou a se lamentar, depois de ter telefonado para os parentes em Cuba, disse. Eles não estavam totalmente certos se queriam deixar ou nãoo seu país.

O advogado da Arena Box Promotion também acha que as autoridades brasileiras não agiram corretamente. Como é possível que numa hora digam que eles tinham três meses de visto e noutra afirmem que tinham visto só até dia 29 de julho?, questiona. Juridicamente, o processo parece ter acontecido de forma bastante duvidosa. Ele se queixa, ainda, de que os advogados brasileiros por ele contratados só puderam ter acesso aos pugilistas horas depois da detenção deles.

Villena confirmou que a negociação foi possível, no Rio, com a ajuda de outro alemão, Thomas Dõring. Este encarregou-se da parte inicial, mais delicada, de fazer as sondagens e propor aos dois boxeadores fugir da delegação e se transferir para Hamburgo. Dõring estava a serviço da Black Star Factory, que não tem endereço definido e é especializada nesse tipo de abordagens.

Acordo foi fechado em boate, às 5 da manhã
Para intermediário, boxeadores queriam mesmo desfrutar capitalismo

Foi só ao fim de uma longa noitada, já perto das 5 da manhã, em uma boate do Rio, que os campeões cubanos Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara decidiram aceitar o convite e ir viver na Alemanha. A fuga foi decidida no último minuto. Eles resolveram desertar quando deixaram a discoteca, já às 5 da manhã, afirma Villena y Scheffler.

Ao revelar ao Estado os detalhes da negociação, o advogado da Arena Box Promotion disse que, em sua impressão, o que os dois mais queriam, naquele momento, era aproveitar as delícias da vida com dinheiro e liberdade. Ele disse ter entregue 5 mil a cada um (cerca de R$ 13,5 mil), mais celulares pré-pagos, além de depositar numa conta especial na Alemanha 20 mil (R$ 54 mil) em nome de cada pugilista. Esse valor correspondia a 20% do adiantamento que eles deveriam receber quando chegassem à Alemanha.

Eles tinham muito dinheiro na mão e acho que gastaram quase tudo no Brasil, disse o advogado. Os dois tinham a companhia de três a cinco mulheres diferentes por dia, ou até mais. Esses detalhes foram relatados ao alemão por André Botino, brasileiro que ele contratou para acompanhar os boxeadores após o retorno de Dõring à Alemanha.

ESCONDIDOS

Villena acha que faltou um mínimo de preparação aos dois cubanos. Se tivesse havido um melhor planejamento e um maior empenho, eles teriam tentado pegar seus passaportes de alguma forma, antes de abandonar a delegação.

Villena esteve diversas vezes com Thomas Dõring, o intermediário que primeiro falou com os boxeadores, mas diz não saber sua profissão. Se ele é mesmo jornalista, como afirmam, eu não sei. Sei que ele tinha acesso aos atletas através de uma credencial de imprensa. Embora interessado em esclarecer o caso, já que foi acusado pelos atletas cubanos de tê-los dopado, Dõring – que, ao que tudo indica, está em Berlim – não quer contato com a imprensa. Já passei a ele pedidos de entrevistas da mídia alemã, mas ele não quer falar, lembra Villena. Ele informou, ainda, que é fictício o endereço que consta nos registros da Black Star, a empresa para a qual trabalha Dõring e que fez a intermediação inicial com Rigondeaux e Lara. Não sei exatamente que outro tipo de negócio a Black Star faz. Tive contato com eles apenas nesse caso, como representante da Arena.

Uma terceira pessoa envolvida na históría é um cubano de cidadania alemã, Evelio Alexis Madrigal Moreira. Villena confirmou a participação dele na operação, mas diz nada saber a seu respeito. Apenas que era de Cuba e já estava de volta à Alemanha. Nem sei direito o nome dele, alegou. Acho que se chama Alex, ou Alexei.

OAB cobra garantias de Cuba aos boxeadores

No momento em que o governo de Cuba busca apoio internacional para a campanha em defesa de cinco cidadãos seus presos nos Estados Unidos, acusados de espionagem, o presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil, Cezar Britto, reúne-se com o embaixador cubano em Brasília, Pedro Nuñez Mosquera, para pedir, em nome da OAB, reciprocidade no tratamento digno e integridade física dos esportistas.

O encontro dos dois será hoje, em almoço na Embaixada de Cuba. A OAB vai pedir também à União dos Juristas de Cuba, entidade que congrega os advogados da ilha, que acompanhe a situação de Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara e mantenha a Ordem informada.

A OAB estuda ainda a possibilidade de enviar a Cuba um representante do seu Conselho Federal para verificar diretamente a situação dos dois atletas e de suas famílias. A informação que circulou em várias fontes, e que teria levado os dois boxeadores a desistir de se transferir para a Alemanha, é que parentes seus tinham perdido casa, carro e garantias pessoais, assim que os dois deixaram a delegação de Cuba no Pan do Rio.

Assim como cobramos um tratamento digno para os cubanos presos nos Estados Unidos, vamos cobrar um tratamento em igualdade com esse princípio aos atletas que foram deportados, disse Britto. O julgamento dos cinco cubanos acusados de espionagem será no dia 29, em Atlanta, na Georgia.