Além da Cisco, Receita investiga atuação de 13 grandes empresas

17 de outubro de 2007 07:00

O nome dessas empresas, mantidos sob sigilo, surgiu entre os papéis das importadoras fisgadas na Operação Dilúvio, em agosto do ano passado. Na Dilúvio, até então a maior investigação sobre fraudes no comércio exterior, a PF e a Receita desmontaram uma rede de importação acusada de desviar R$ 500 milhões somente em sonegação de impostos. O grupo, supostamente chefiado pelo empresário Marcos Antônio Mansur, subfaturava importações.

A organização também foi acusada de recorrer a laranjas e offshores, entre outros expedientes, para camuflar as irregularidades e mandar dinheiro para o exterior. No início, a PF e a Receita apontaram o envolvimento de 102 pessoas e 24 empresas.

No decorrer da apuração, a Receita descobriu indícios de que mais 14 grandes empresas teriam recorrido a esquemas similares. A investigação contra a Cisco foi mais célere e resultou na Operação Persona.

Ex-funcionário denunciou esquema à Receita
As suspeitas da Receita foram reforçadas pelas denúncias que um ex-funcionário da Cisco fez à PF.

Houve um encontro entre os trabalhos da PF e da Receita Federal, e o resultado é este que estamos vendo aqui afirmou o coordenador geral de Pesquisa e Investigação da Receita, Gerson Schaan.

A Cisco do Brasil é uma das empresas parceiras do Ministério das Comunicações no projeto Tiradentes Digital, que implantou uma uma rede sem fio de alta velocidade (banda larga) para acesso à internet. O projeto funciona na cidade histórica de Minas Gerais e começou em março de 2006.

A ação da PF foi batizada de Persona em referência ao desmascaramento das verdadeiras empresas envolvidas nas importações ilegais de itens de informática dos EUA. A fraude, segundo a polícia, consistia na camuflagem das compras internacionais feitas pela Cisco com a ajuda da Mude, distribuidora de produtos de informática.

O nome inicial da operação era Mudança, menção à Mude, que teria papel central no esquema.

Devido à complexidade do esquema, a PF dividiu os investigados em grupos. Os primeiros 20 foram chamados de chefes; os do segundo nível, de gerentes; já os de terceiro nível receberam o nome de colaboradores.

Entre os chefes estão representantes legais da Cisco do Brasil, como Pedro Ripper.

Além dos fortes indícios de suas participações nos delitos, seu grau de influência na atuação da quadrilha certamente poderá atrapalhar ou atravancar continuidade da investigação.

Portanto, a prisão temporária cabível a todos os investigados desse grupo disse o juiz Alexandre Cassetari, da 4º Vara Federal Criminal de São Paulo, que expediu os mandados de prisão, busca e apreensão.

Desde 2005, empresas aperfeiçoaram esquemas
No grupo dos gerentes (administradores ou gerentes das empresas), o juiz determinou a prisão de dez envolvidos. Dos 32 pedidos de prisão dos colaboradores laranjas, funcionários, fiscais da Receita, despachantes aduaneiros, advogados e o ex-presidente da Cisco Rafael Steinhauser , só 14 foram decretados: seis funcionários, os três despachantes, os quatro fiscais e Steinhauser, que, segundo o juiz, participava das atividades diárias da Cisco e da Mude.

A operação de maior repercussão da PF foi a Narciso, que, em julho de 2005, resultou na prisão de Eliana Tranchesi, sócia da Daslu, maior loja de artigos de luxo do país. O aperto da polícia não refreou as irregularidades. Para a Receita, desde então, algumas grandes empresas só tentaram aperfeiçoar seus esquema fraudulentos.

O esquema descoberto na Operação Persona mostra que houve um aperfeiçoamento das fraudes em relação à Operação Dilúvio, que já era um avanço em relação às fraudes apuradas na Operação Narciso disse Schaan.

As ações da Cisco Systems fecharam ontem em queda de 1,52% na bolsa Nasdaq, mas não como reflexo da operação.

Além da queda dos mercados, pesaram os rumores sobre a compra da Navini Networks pela Cisco.

(*) Com agências internacionais

Companhias vivem ilusão de segurança
Fraudes atingem 46% das corporações do país, segundo pesquisa
Apesar da incidência crescente de casos de crimes econômicos nas empresas e das altas somas envolvidas, predomina no mundo corporativo a ilusão de que há segurança. A confiança dos gestores na relativa imunidade de suas organizações a fraudes foi uma das constatações da PricewaterhouseCoopers na Pesquisa Global sobre Crimes Econômicos, em sua quarta edição. Foram feitas 5.428 entrevistas este ano, 76 das quais no Brasil. A mostra incluiu 40 países. Ainda que um número maior de crimes econômicos tenha ocorrido na base da pirâmide social das empresas, é no topo dela que estão as fraudes de maior valor.

No Brasil, 46% dos entrevistados responderam que suas empresas sofreram algum tipo de crime econômico nos últimos dois anos, contra 52% nos Estados Unidos. Em parceria com o Centro de Pesquisa em Crimes Econômicos da Martin-Luther University Halle-Wittenberg, da Alemanha, os pesquisadores da Price concluíram que, nos Estados Unidos, a maior incidência desses crimes se deveu ao fato de o ambiente ser mais controlado. Na América do Sul e Central, essa incidência foi de 39%.

No Brasil e no mundo, a lista de fraudes foi liderada por apropriação de ativos: 37% e 30%, respectivamente. Nenhuma empresa brasileira entrevistada constatou casos de lavagem de dinheiro, mas a percepção de que o risco existe chegou a 14%. Entre as estrangeiras, 4% delas registraram crimes de lavagem de dinheiro.

A pesquisa fez também um perfil sócioeconômico do fraudador. No Brasil, ele é do sexo masculino (88% dos casos) e tem escolaridade mediana (65% tinham concluído o segundo grau). Funcionários com mais tempo de casa (acima de dez anos), lideram a lista de fraudadores. O motivo é simples: ele tende a conhecer melhor a empresa e dominar suas vulnerabilidades.