Alerta de risco levou Cabral a cancelar presença em trem

12 de setembro de 2007 10:43

A equipe de segurança do governador do Rio, Sérgio Cabral, desaconselhou com veemência sua ida no trem que levava dois ministros e foi atingido por tiros, anteontem, ao passar pela favela do Jacarezinho (zona norte). Na avaliação dela, o percurso era muito arriscado.

O chefe da Coordenadoria Militar da Casa Civil, coronel Fernando Messias, avaliou que se tratava de uma área de risco real, sem policiamento suficiente, e informou isso reservadamente a Cabral, que pretendia acompanhar a comitiva.

O grupo também foi alertado sobre o policiamento insuficiente e o risco, como confirmou à Folha o ministro Márcio Fortes (Cidades), mas ignorou o aviso, convencido pelo secretário de Transportes, Júlio Lopes, que insistiu que não haveria problema em ir ao local.

Lopes comparou ontem o alerta recebido a um aviso de embaixadas sobre riscos de visitas ao Rio. “Muitas embaixadas dizem que o Rio é perigoso, mas ninguém deixa de visitar a cidade nem aproveitá-la. E ninguém espera levar um tiro.”

A ida ao Jacarezinho não constava dos planos iniciais -só estava previsto patrulhamento na favela do Arará, onde policiais tinham estado no domingo e na segunda.

Como o trajeto surgiu de improviso, nenhuma dessas medidas havia sido tomada -o que levou a segurança a insistir para que Cabral desistisse de acompanhar o grupo.

Preocupado com a informação, o governador determinou, por telefone, que agentes de sua escolta pessoal estivessem no trem, para reforçar o efetivo de policiais do Batalhão Ferroviário. Parte dos tiros de revide foi disparada por eles.

Cabral negou oficialmente ontem ter sido avisado do perigo e disse que tomou o helicóptero por causa de uma reunião agendada com empresários, mas a Folha apurou que a razão foi segurança.

“Não sabia [do alerta]. Mas posso dizer que nada justifica o ataque. Por isso, demos uma resposta pronta. Não podemos tolerar que autoridades não possam ir a algum lugar.”

“Traficantes desavisados”
O delegado Rodrigo Oliveira, diretor da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais da Polícia Civil), disse que os tiros foram ação de “traficantes desavisados”. Para ele, os criminosos não sabiam que autoridades estavam na composição.

“No vagão, estavam policiais militares fardados e armados. Traficantes que ficam na beira da linha do trem avistaram os PMs e pensaram que poderiam estar entrando na comunidade de trem para uma operação”.

O comandante-geral da PM do Rio, coronel Ubiratan Angelo, afirmou que o trajeto não estava previsto. “Na hora do evento, o comandante do batalhão contra-indicou que fosse feito o trajeto”.

Colaboraram ITALO NOGUEIRA e MARCIA BRASIL , da Sucursal do Rio

Tarso diz que tráfico deverá reagir de novo
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA SUCURSAL DO RIO

O ministro da Justiça, Tarso Genro, disse que a demonstração de forças do tráfico no Rio vai voltar a acontecer. Trata-se, em seu entendimento, de uma tentativa do crime organizado de evitar que o Estado retome seu espaço na sociedade.

Tarso afirmou que a União está à disposição para fazer as intervenções que o governo do Rio julgar necessárias, tanto por meio da Polícia Federal como pela Força Nacional de Segurança Pública.

Em reunião com o secretário nacional de Segurança Pública, Antonio Carlos Biscaia, ontem, o ministro decidiu oferecer ao Rio uma “sala de situação específica”. O objetivo seria administrar episódios graves e pontuais.

Força Nacional
Biscaia, afirmou ontem que 1.200 homens da Força Nacional de Segurança Pública vão ficar em “caráter definitivo” no Rio.

A tropa da Força Nacional chegou meses antes dos Jogos Pan-Americanos para reforçar a segurança na cidade durante o evento. A permanência dos agentes estava definida apenas até dezembro.

“[Os policiais vão ficar] No mínimo, em caráter de permanência definitiva. Pode se pensar em remanejamento. Mas o número [de agentes] é 1.200”, disse o secretário na Conferência de Segurança Pública da Associação Internacional dos Chefes de Polícia.