Alimentos pesam mais no bolso

12 de dezembro de 2007 11:52

Fazer rancho no supermercado se tornou cada vez mais caro ao longo do ano – e, pior, a expectativa é de que isso não mude tão cedo.
De janeiro a novembro deste ano, a inflação dos alimentos chegou a 11,25% na Região Metropolitana de Porto Alegre, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor do Centro de Estudos e Pesquisas Econômicas (Iepe) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Mudanças no clima, aumento no poder aquisitivo dos brasileiros e queda na produção agrícola mundial são os principais culpados pelo aumento dos alimentos bem acima da meta de inflação fixada para este ano no Brasil, de 4,5%, com margem de variação de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. No mundo todo, a comida está ficando mais cara, adverte o presidente da Associação Gaúcha de Supermercados, Antônio Cesa Longo.
– O planeta está precisando mais de alimentos, e o Brasil é um grande fornecedor de comida. Mais mercados se abrem para exportar – diz.
Em menor escala, foi o que aconteceu com a batata inglesa, campeã de aumento neste ano entre os alimentos da cesta básica segundo o Iepe: 123,41% de janeiro a novembro. A neve e o frio fora de hora na Argentina quebrou a safra no país vizinho, grande fornecedor do Uruguai. O Brasil se encarregou de vender batata para uruguaios e argentinos – aí o estoque do produto caiu também por aqui, aumentando o preço no armazém, esclareceu Guido Boeing, analista de mercado do Centro de Socioeconomia e Planejamento.

Opção é variar produtos conforme a estação
Na semana passada, o Instituto de Investigação sobre Política Alimentar Internacional divulgou a previsão de que a produção agrícola mundial deve cair 16% até 2020. Entre as causas, possíveis problemas climáticos e incentivo à produção de biocombustíveis em vez de alimentos. Menos produtos, maiores preços.
O economista Márcio Mendes da Silva, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), lembra que os preços das commodities – milho e soja, por exemplo – já estão aquecidos e interferem em outros alimentos:
– O milho é insumo para criação de aves e suínos. Quando sobe de preço, o custo do criador também aumenta.
Outro problema, lembra o especialista, é que o impacto sobre a faixa da população mais pobre pode inibir o consumo de outros bens. Quando se gasta mais do salário em comida, corta-se eventuais supérfluos, explica.
A boa notícia é que, se em conjunto os alimentos devem seguir valorizados, fatores climáticos e de safra fazem com que os preços de cada produto variem durante o ano. José Antônio Villanova Filho, economista do Iepe, diz que os produtos in natura – frutas, legumes e verduras sem industrialização – têm mais chances de variar seus preços para baixo no próximo ano. Como no caso da maçã, que custa hoje 11,18% a menos do que em janeiro.
Com escassez agrícola ou não, deve seguir valendo a regra sempre seguida pelas donas de casa: variar os produtos conforme a estação.