Após fraude do leite, PF desmonta esquema de venda de queijo vencido

30 de outubro de 2007 10:56

Governo e entidades de defesa do consumidor estão apertando o cerco aos produtores de leite do país. O Ministério da Agricultura anunciou que, para evitar uma relação próxima demais entre empresas e fiscais o que pode levar a fraudes , a partir da próxima semana, gradualmente, acabará a fiscalização permanente por apenas um fiscal nas 200 usinas de beneficiamento de leite. O controle será exercido por auditorias.

As equipes serão compostas por três fiscais federais (dois veterinários e um agente de inspeção sanitária), que deverão visitar as empresas sem aviso prévio a meta é uma vez por mês. Haverá um período de transição entre os modelos.

O sistema foi projetado para inibir fraudes como as detectadas em Minas disse o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, na primeira manifestação sobre o caso.

A ação começa a ser implementada hoje em Minas e, gradativamente, em todo o país a partir da semana que vem. O foco será nos grandes produtores, que incluem ainda Goiás, São Paulo e Rio Grande do Sul.

Outra decisão foi intensificar a coleta de amostras para análise.

Pelo novo modelo, as fraudes serão encaminhadas ao Ministério Público, e as empresas, responsabilizadas criminalmente.

Stephanes fez questão de garantir a qualidade do leite consumido no país: Recomendo que o brasileiro beba leite, sem dúvida. Pode trazer aqui que eu tomo. disse, admitindo surpresa pela adulteração. Algumas dúzias de vigaristas criaram um sistema que conseguia mascarar as análises. A água oxigenada é volátil e você não a detecta.

A Fundação Procon e as secretarias da Saúde e da Agricultura e Abastecimento de São Paulo estudam uma ação de fiscalização em todas as usinas e cooperativas de leite no estado.

Os órgãos aguardam as análises dos produtos coletados desde sexta-feira para deflagrar a operação, o que deve acontecer até o fim da semana. Até ontem, mais de 15 fiscais coletaram, na capital, pelo menos 45 amostras, que foram encaminhadas a laboratórios.

Nenhuma, segundo o Procon, é de lotes bloqueados pela Anvisa (das marcas Parmalat, Calu e Centenário).

No Rio, a Secretaria de Estado de Saúde e Defesa Civil (Sesdec) informou que a Vigilância Sanitária começou a enviar para análise amostras de leite UHT.

Não há, porém, previsão para a divulgação dos resultados.

Empresa que enterrou caixas foi multada em R$ 20 mil
No Rio Grande do Sul, o leite encontrado enterrado em duas fazendas tinha condições normais, segundo o Ministério da Agricultura. As amostras do leite, da Nutrilat, recolhidas em Fazenda Vilanova, foram analisadas em laboratório do governo federal, em Pedro Leopoldo (MG). Havia o temor de que o produto tivesse as irregularidades descobertas em Minas.

A Nutrilat foi multada em R$ 20 mil pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental, por dano ambiental, e tem dez dias para desenterrar as embalagens.

Na semana passada, o Ministério da Agricultura condenou 725 mil caixas de leite avariadas da empresa.

Segundo o assessor jurídico da Nutrilat, André Roberto Mallmann, são de um lote que caiu de um andaime. A empresa admitiu que 225 mil caixas foram enterradas. O restante teria sido destinado ao consumo animal.

A Vigilância Sanitária gaúcha vai analisar as 24 marcas de leite comercializadas no estado.

Análise do MP revela riscos de ingerir produto
Em concentração muito alta, mistura poderia até matar
Um relatório sigiloso do Ministério Público Federal (MPF) contendo o resultado da análise de mais de 50 mil litros de leite apreendidos em agosto na Casmil, cooperativa localizada na cidade de Passos (MG), confirma a contaminação do leite com peróxido de hidrogênio, conhecido como água oxigenada, e revela os riscos à saúde da mistura. Segundo o documento, exibido ontem pelo Jornal Hoje , se ingerido em pequenas quantidades, o leite adulterado poderia provocar problemas no estômago e no intestino. Caso a concentração fosse muito alta, poderia até matar ou perfurar as córneas se em contato direto com os olhos.

A água oxigenada era misturada ao leite cru, entre a ordenha e o beneficiamento, e levava até quatro horas pra ser diluída. O tempo era suficiente para não aparecer nos testes do Ministério da Agricultura. Além de aumentar o prazo de validade do leite, o golpe era usado para mascarar más condições de higiene, conservação e transporte.

A análise mostrou também que a mistura destruía as vitaminas A e E, duas das mais importantes contidas no leite.

Na investigação paralela que identificou mais de 60 mil litros de leite contaminado na Coopervale, cooperativa de Uberaba (MG), ainda não foi definido qual será o destino da bebida. Há três dias a Vigilância Sanitária procura um local apropriado para despejar o leite adulterado. O produto está nos tanques da Coopervale, em Uberaba. A intenção é mandar a mistura para alguma cidade de Minas Gerais ou de São Paulo. No entanto, ninguém quer receber essa carga.