Após negociação, índios libertam os cinco reféns

12 de dezembro de 2007 11:36

Os índios cintas-largas libertaram ontem os cinco reféns detidos desde sábado na Terra Indígena Roosevelt, em Rondônia, entre eles, o comissário das Nações Unidas (ONU), o espanhol David Martins Castro, e o procurador da República Reginaldo Pereira. Por exigência dos índios, o presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Márcio Meira, se deslocou de Cacoal (a 534 quilômetros de Porto Velho) até a reserva. Na volta, levou no helicóptero David Castro, o procurador Reginaldo Trindade e a mulher dele, Margarete Geareta Trindade. O administrador da Funai em Ji-Paraná, Vicente Batista, e o motorista Mauro Gonçalves, foram de carro até Cacoal.
Em português e mostrando presentes recebidos dos índios, o oficial da ONU disse estar bem. O trato na aldeia foi ótimo, não sofremos violência, garantiu. O procurador Reginaldo Pereira disse que não foi agredido ou maltratado e disse entender o motivo do seqüestro. Foi a única forma que eles (os índios) encontraram de serem ouvidos pelo governo federal e pela Funai, afirmou.
A Agência Brasileira de Informação (Abin) monitorou as negociações e a liberação dos reféns. A Polícia Federal ficou de fora do processo. Os índios exigiam que policiais federais deixassem as barreiras de acesso à terra indígena.
Os índios fizeram oito reivindicações. Entre elas a suspensão dos processos contra 23 cintas-largas acusados do massacre de 29 garimpeiros na reserva em 2004, e a não-liberação de mineração em terras indígenas. Meira disse que as reivindicações serão encaminhadas pelo Ministério da Justiça.
Segundo o presidente da Funai, está marcada para a próxima semana uma audiência com cinco representantes dos cintas-largas e o ministro da Justiça, Tarso Genro, para tratar do caso. Àquelas reivindicações específicas, que não são só de responsabilidade da Funai, vamos dar encaminhamento através de uma comissão que já tem audiência marcada, explicou.
Meira informou também que a questão da extração de diamantes será tratada por um Grupo de Trabalho da Funai que será criado até janeiro de 2008. Vamos instituir um grupo específico para liderar junto com os índios esse processo, que terá solução a médio e a longo prazo. Sabemos que existe uma mina de diamantes dentro da terra indígena que precisa de um tratamento especial.
O grupo tinha ido à reserva, no sábado, a convite dos cintas-largas para verificar denúncia de constrangimentos a índios em revistas da PF. O oficial da ONU recebeu a denúncia em Genebra (Suíça). A PF nega.
A exploração de diamantes é proibida no local. Os índios cobravam ilegalmente pedágio dos garimpeiros. Depois passaram a garimpar e controlar a atividade, o que gerou o conflito de 2004. Há divisões entre os cintas-largas. Alguns exploram a atividade de forma ilegal.