Apreensão de drogas cresce 30% no aeroporto e PF intensifica a fiscalização
Uma mulher bonita e elegante caminha pelo Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek. Aos olhos de pessoas comuns, parece apenas mais uma passageira rumo ao embarque para a Europa. Em meio à multidão apressada, agentes da Polícia Federal à paisana observam cada movimento suspeito. O comportamento da africana de 24 anos chama a atenção dos policiais, que decidem abordá-la.
Em poucos minutos de entrevista com o delegado, ela resolve confessar que é uma “mula”, nome dado àqueles que transportam drogas. Os cabelos encaracolados se revelaram artificiais. Na peruca, a mulher escondia cocaína. Como se não bastasse, a jovem ainda transportava três cápsulas com o entorpecente na vagina e outra no ânus.
A criatividade dos criminosos que usam Brasília como rota do tráfico de entorpecentes parece não ter limite. Na lista de detidos pela PF no aeroporto da capital, estão jovens e até idosos que se valem das formas mais inusitadas para fazer com que substâncias ilícitas cheguem a países do Velho continente.
Atento a essas novas estratégias, a Delegacia da Polícia Federal no Aeroporto JK tem intensificado a fiscalização nos terminais, o que resultou em aumento de 30% na apreensão de drogas no primeiro semestre deste ano na comparação com o mesmo período de 2010. De janeiro a julho de 2011, foram recolhidos 106 kg de entorpecentes, contra 83 kg nos seis primeiros meses de 2010. As investidas policiais mandaram para a cadeia, nos últimos 18 meses, 38 pessoas acusadas de tentarem embarcar em voos domésticos e internacionais com substâncias proibidas.
A cocaína é a preferida dos traficantes internacionais. O pó branco com alto poder de destruição representa mais de 90% dos flagrantes em Brasília. Os bons valores pagos pelos barões do tráfico às mulas fazem com que gente comum e desesperada por dinheiro aceite se arriscar. Em 22 de março último, um chileno de 62 anos foi surpreendido ao tentar passar pela segurança aeroportuária com quase 2 kg de cocaína. Ele acondicionou a droga em uma cinta de mulher presa ao corpo. Nas solas dos sapatos que calçava, também havia quantidade razoável do entorpecente. Pressionado pela PF, admitiu que a viagem à Espanha, caso bem-sucedida, lhe renderia US$ 5 mil.
Sensibilidade
O delegado-chefe da Delegacia do Aeroporto JK, Marcos Paulo Cardoso, não revela as técnicas usadas para identificar os traficantes, mas adianta que a sensibilidade dos agentes, aliada à alta tecnologia, torna quase impossível que uma mula consiga deixar o solo brasiliense sem ser percebida. “São diversos expedientes usados por traficantes em voos domésticos e internacionais, mas temos formação específica para detectar todas as formas usadas para tentar enganar a fiscalização. Iniciamos também a Operação Aeroporto JK Seguro, em que pelo menos três vezes por semana fazemos ações surpresa com a presença de cães farejadores e reforço na inspeção de bagagens”, destacou Marcos Paulo.
E parece que as medidas de segurança têm surtido efeito. No último dia 6, uma mulher de 24 anos foi presa por carregar, em fundos falsos de uma mala, 16 kg de maconha comprada em Campo Grande (MS). Ela tinha Manaus (AM) como destino. Em depoimento, a mula confessou já ter conseguido embarcar com drogas em quatro aeroportos brasileiros sem nunca ter sido notada. “Isso comprova que nosso trabalho (em Brasília) é eficiente. A primeira vez que ela passou por aqui, foi pega”, constatou o delegado.
Caminho do entorpecente
Brasília já se consolidou como rota do tráfico internacional de drogas pela abertura de novos voos internacionais. Os chefões do tráfico na América do Sul recrutam mulas em vários países com a missão de enviar as remessas de cocaína a traficantes menores da Europa. Normalmente, o entorpecente é comprado nas mãos de produtores da Bolívia, do Paraguai, do Peru e da Colômbia; e também em cidades brasileiras que fazem fronteira com nações fornecedoras, como Guajará-Mirim (RO), Ponta Porã (MS) e Cáceres (MT). As mulas compram o bilhete aéreo internacional e muitos voos acabam fazendo conexão no Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek.