Argumento: Dilma foi traída
Seria um argumento semelhante ao utilizado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2005, durante o episódio do mensalão. No auge da crise, Lula se disse traído, mas não citou nomes. Dilma deverá ser perguntada sobre o dossiê em seu depoimento na Comissão de Infra-estrutura do Senado, na quarta-feira.
Já há quem defenda que Dilma sacrifique uma pessoa de sua confiança, na eventualidade de a PF concluir que o dossiê foi elaborado com objetivos políticos. Nesse caso, assessores palacianos falam até na secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra. Mas, até o momento, Dilma tem feito uma defesa enfática de Erenice, seu braço direito.
Planalto espera esgotar o assunto dossiê quarta-feira
Segundo um auxiliar direto do presidente Lula, essa estratégia está condicionada à possibilidade de o relatório da investigação apontar que partiu do quarto andar do Planalto, onde está localizada a Casa Civil, a ordem para a confecção do dossiê contra o ex-presidente Fernando Henrique. De qualquer forma, a definição do núcleo do governo é encerrar o episódio o mais rapidamente possível.
Por isso, a idéia no Planalto é aproveitar o depoimento da ministra no Senado, depois de amanhã, para tentar esgotar o assunto sobre o dossiê. A convocação é para falar sobre o andamento das obras do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC). Mas na semana passada, ela foi orientada a responder a todos os questionamentos da oposição sobre o dossiê.
– Dilma vai se sair muito bem, como em tudo que ela faz. Ela é preparada e sabe de cor e salteado todos os temas do governo. Se houver surpresas no depoimento, ela está preparada para responder questionamentos e tirar qualquer dúvida que surgir, inclusive sobre o dossiê – disse ministro de Relações Institucionais, José Múcio Monteiro.
Sobre a investigação da PF, há no Planalto a certeza de que não se conseguirá apontar crime na ação da Casa Civil, ainda que fique claro que os dados oficiais foram manipulados para fazer um dossiê. No entanto, o governo teme ficar numa situação delicada, caso o relatório final aponte uso político do que a Casa Civil classificou de banco de dados.
Há duas semanas, Dilma está em absoluto silêncio sobre o tema, recusando-se a responder a perguntas de jornalista, inclusive no exterior. Ela está muito incomodada com o fato de não poder se dedicar exclusivamente ao PAC. A avaliação no Planalto é que o assunto está morrendo, mas há ainda um temor de que Dilma repita o desempenho sofrível, quando concedeu uma entrevista sobre o tema há um mês.
Governo quer impedir outra convocação de Dilma
Por isso, o governo está jogando todas as fichas no depoimento desta semana. Será uma tentativa de enterrar definitivamente o tema. Mas por estratégia política, o Planalto vai agir para derrubar um segundo requerimento de convocação de Dilma para falar exclusivamente sobre o dossiê, na mesma comissão permanente do Senado. O governo acha que isso causaria um desgaste político.
– Vamos tornar sem efeito a convocação de Dilma para falar sobre dossiê. Não é pertinente ela ser convocada para tratar disso nessa comissão – sentenciou o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR).
A avaliação interna é de que o maior problema, no caso do dossiê, foi o surgimento de várias versões para a elaboração do que o governo chama de banco de dados, com gastos da conta tipo B do governo tucano. Na primeira versão, o governo alegou que os dados foram solicitados pelo TCU. Também alegou que o banco de dados era um levantamento preventivo para ser fornecido à CPI do Cartão Corporativo. Um terceiro foi o de que o dossiê foi montado sem autorização por alguém que montou a planilha com o objetivo de atingir Dilma.
Ao mesmo tempo em que tenta tirar de pauta o escândalo do dossiê, o Planalto monta uma operação para retomar a agenda positiva da ministra, que vem sendo testada por Lula para disputar a sua sucessão em 2010. Ao constatar que a ministra ficou no tiroteio, o núcleo de articulação política do Palácio do Planalto montou uma operação para tentar reverter a situação da principal auxiliar do presidente. A tentativa é colar ao máximo a imagem de Dilma à do presidente, para diminuir o desgaste das últimas semanas.