Assessor é afastado do cargo
Até ontem à noite ainda estava em discussão no Planalto o formato da saída dele – que é funcionário de carreira do Tribunal de Contas da União (TCU) – da Casa Civil: se seria definitivo ou afastamento temporário, até a conclusão das investigações da Polícia Federal sobre o vazamento do dossiê com gastos do governo Fernando Henrique.
A decisão sobre a saída de Aparecido havia sido tomada durante o dia, quando se concluiu que ele não teria mais condições de voltar ao cargo de confiança, e chegou a ser anunciada pelo líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR).
– Tenho a informação de que o funcionário pediu afastamento, portanto, é uma questão interna de administração. Sem dúvida, não tem mais confiança para se manter nesse cargo ou em qualquer outro na gestão do atual governo – disse Jucá.
À noite, a Casa Civil confirmou que não haveria ontem uma decisão formal sobre o destino do secretário. O governo também autorizou a base aliada a aprovar hoje, na CPI do Cartão Corporativo, a convocação de Aparecido. Nas próximas horas, ele deverá depor também ao delegado da Polícia Federal Sergio Menezes, que conduz o inquérito do dossiê.
– O governo vai pagar para ver, não tem medo – disse Jucá.
Após ameaçar revelar detalhes sobre como foi montado o dossiê, Aparecido passou a sofrer pressão de dois lados. Enquanto os amigos do TCU o incentivam a depor logo na CPI e revelar detalhes da operação, emissários do Planalto tentavam acalmá-lo, para evitar um desgaste maior ao governo. Por isso tanto cuidado em busca de uma solução negociada para sua saída do cargo.
Dirceu muda de tom sobre ex-assessor
O laudo preliminar do Instituto de Tecnologia da Informação (ITI), da Casa Civil, aponta Aparecido como o responsável pelo vazamento do dossiê. No dia 5 de abril, O GLOBO antecipou que a sindicância interna já apontava Aparecido como o funcionário que vazou o dossiê para a oposição, e que ele era da confiança do ex-chefe da Casa Civil José Dirceu.
Ao mesmo tempo, integrantes da cúpula petista também tentam convencer Aparecido a ficar em silêncio neste primeiro momento, para evitar um tom emocional em seu depoimento. Havia a expectativa de que até Dirceu fosse acionado para interferir. Mas, a amigos, o ex-ministro achou conveniente não entrar em contato direto com Aparecido. No entanto, mandou interlocutores comuns sondar o humor do antigo subordinado e comentou de forma reservada que Aparecido errou na condução do episódio.
Em seu blog, Dirceu ontem voltou a tratar do assunto. Depois de ter afirmado semana passada que não acreditava na possibilidade de Aparecido ter vazado o dossiê, ontem mudou de tom: “Mesmo se ficar provado que foi José Aparecido, isso não exclui (o senador) Álvaro Dias, (o assessor) André Fernandes e a oposição de suas responsabilidades no caso”.
O presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), rebateu ontem o argumento do ministro da Justiça, Tarso Genro, de que haveria uma pena leve para o vazamento por descuido. Genro argumentou que, se o envio do dossiê foi sem dolo, a punição seria só por infração disciplinar.
– Não adianta o Planalto tentar estabelecer nenhum acordo com Aparecido. Não cabe ao Tarso, à Dilma e nem ao governo dizer que tipo de penalidade Aparecido vai receber. Essa é uma questão do Ministério Público e da Justiça – disse Rodrigo Maia.