BNDES: novos indícios

23 de maio de 2008 10:18

Em troca de mensagens eletrônicas entre o dono da consultoria Progus, Marcos Mantovani, e sua filha e assistente, chamada apenas de Carol, Mantovani diz que parte do dinheiro recebido pelo grupo deve ser guardada para P.A. e que a sigla significa “Paulinho”. Para a polícia, “Paulinho” é o deputado Paulo Pereira da Silva.

Documentos e gravações telefônicas já haviam complicado a vida de Paulinho, que poderá ser processado na Corregedoria da Câmara dos Deputados. O coronel reformado da Polícia Militar Wilson de Barros Consani Jr., preso na Operação Santa Teresa, afirmou em depoimento à PF que o “chefe maior”, citado em suas conversas telefônicas, era o deputado. Em outras gravações, um homem citado como “chefe lá de Brasília” é, para a polícia, Paulinho. Nas planilhas de rateio do dinheiro arrecadado com o empréstimo do BNDES ao município de Praia Grande (2% da primeira liberação, de R$40 milhões, de um total de R$124 milhões), há dinheiro destinado a “P.A.”.

O deputado não está sendo investigado pela Polícia Federal nem é réu no processo que corre na Justiça Federal de São Paulo. Por ter foro privilegiado, só pode ser investigado pelo Supremo Tribunal Federal.

O GLOBO teve acesso ao registro da conversa por MSN (programa de mensagens eletrônicas) do disco rígido apreendido no escritório da Progus. A troca de mensagens, que ocorreu em 20 de fevereiro passado, trata de cheques no valor de R$18.397,50, com datas de três dias antes. As cópias dos dois cheques foram apreendidas pela PF durante diligência à sede da Progus. Os cheques foram emitidos por uma conta bancária da “casa noturna” W.E., que, segundo as investigações, é um prostíbulo de luxo onde o empreiteiro de Praia Grande Manuel Fernandes de Bastos Filho, foragido, e o consultor da Força Sindical e ex-conselheiro do BNDES João Pedro de Moura, que está preso, chefiavam, de acordo com a PF, o esquema de fraudes e rateio de comissões sobre empréstimos do banco. Os financiamentos eram concedidos a municípios e a empresas.

Mantovani orienta a filha sobre depósito: “Paulinho”
Cada cópia de cheque da W.E. apreendida na Progus estava grampeada com a etiqueta de seu destino final. Para R.T. (o advogado Ricardo Tosto, segundo a PF), o valor era 18.397,50, o mesmo destinado a P.A., ou deputado Paulinho, segundo a polícia. A Progus recebeu R$36.795 e, para os impostos, restaram R$18.520. Os cheques foram depositados na conta de Mantovani, conforme o extrato bancário da W.E. Depois, o dinheiro teria sido repassado a P.A. e R.T. seguindo a orientação dada por Marcos Mantovani à filha.

Na troca de e-mails, Carol pergunta ao pai: “Estes cheques da sua conta de R$18.397,50 vai (sic) ser nominal?” Marcos responde: “Não e não pode ser cruzado”. A filha continua: “Certo. Um é para Ricardo Tosto e outro é para quem?” O pai responde: “P.A.” Ela pergunta: “P.A.?” Marcos responde: “Paulinho”.

O nome Paulinho é citado mais uma vez no mesmo contexto, mas em um documento apreendido junto ao cheque. Na ficha de controle da cópia do cheque, está escrito: “Paulinho – Praia Grande”. O texto foi riscado antes de ser rubricado, conforme documentos apreendidos na contabilidade da Progus.

– Só quem fala sobre isso é o meu advogado. Eu falo, falo, falo e vocês só escrevem o que falam contra mim – disse ontem o deputado Paulinho sobre as investigações. O advogado do deputado, Antonio Rosella, negou que seu cliente esteja envolvido com o suposto esquema dos empréstimos junto ao BNDES:

– Não é por que alguém falou o nome dele que ele está envolvido. Eu posso usar o seu nome e você não estar envolvida e você pode usar o meu indevidamente. Eu tenho certeza de que ele (Paulinho) não participou de nada. Se alguém falou o nome dele ou da Força Sindical, usou esses nomes indevidamente – disse o advogado.

Ricardo Tosto, que já foi advogado de Paulinho e havia sido indicado pela Força Sindical para assumir a cadeira de conselheiro da Força Sindical, desligou-se do banco. Ele nega ter cometido crimes.

A PF não tem dúvidas sobre o envolvimento de Paulinho. No relatório enviado esta semana à Justiça, a polícia diz: “Com relação às autoridades, deputado federal Paulo Pereira da Silva e prefeito Alberto Mourão (PSDB, de Praia Grande), ficou clara a participação destes na organização criminosa, conforme provas apresentadas”.