Brasil puxa crescimento de fortunas na América Latina

15 de outubro de 2007 15:30

As fortunas latino-americanas estão entre as que mais cresceram no mundo no ano passado. Estudo da consultoria The Boston Consulting Group revela que o total de recursos administrados de clientes private na América Latina aumentou 12,8% em 2006, passando de US$ 3 trilhões (R$ 6 trilhões) para US$ 3,4 trilhões (6,8 trilhões).

O levantamento avaliou 60 países e cerca de 100 private banks forneceram dados. E, se a América Latina apresentou um desempenho notável, o Brasil foi o destaque. Por aqui, o total de ativos sob gestão nesse segmento subiu 20%.

O Brasil é o maior mercado na América Latina em termos de riqueza, com quase metade das fortunas da região, superando, inclusive, o México, diz o francês Christian de Juniac, sócio da Boston Consulting e um dos responsáveis pelo estudo. Segundo ele, dos US$ 3,4 trilhões dos clientes private na região, o Brasil representa US$ 1,5 trilhão, enquanto o México tem cerca de US$ 1 trilhão. Juntos, portanto, os dois mercados têm pelo menos 70% das fortunas latino-americanas.

“O que faz o Brasil particularmente interessante é que o país é o maior sob o ponto de vista de mercado e de geração de valor”, diz. Não por acaso, lembra ele, muitas instituições internacionais estão montando plataformas locais. Já os bancos brasileiros estão dando ainda mais atenção ao segmento private.

Na América do Norte, o crescimento das fortunas ficou na casa dos 8% no ano passado, enquanto na Europa a expansão foi de 5,8%. A Ásia (sem Japão) cresceu 12,8%, puxada pela China. As fortunas japonesas tiveram alta de 3,9% e a África, 8,9%. Segundo o executivo, a riqueza mundial atingirá US$ 100 trilhões neste ano, já que no fim do ano passado chegava a US$ 97,9 trilhões.

Em termos de número de milionários, há globalmente cerca de 10 milhões endinheirados, dos quais cerca de 125 mil estariam no Brasil e teriam mais de US$ 1 milhão (pelo menos R$ 2 milhões) para investir. “Hoje estamos falando de 125 mil milionários e poderemos ter facilmente, daqui a dois ou três anos, 200 mil”, diz.

Um dos fatores para esse forte crescimento das fortunas no Brasil está no ciclo de alta no preço das commodities, lembra o executivo. Além disso, o crescimento do PIB amplifica a criação de riqueza. As aberturas de capital (IPO, na sigla em inglês) também têm aumentado bastante o número de endinheirados no país. “Os IPOs estão transformando os recursos que estavam engessados em ativos líquidos e é aqui que entram os private banks” , diz Juniac.

“Muitos subitamente se vêem com grandes quantias de dinheiro, mas sem experiência para administrá-lo, pois o empresário sabe conduzir um negócio, mas não é especialista na alocação de recursos”, afirma ele, lembrando que os empresários tipicamente mantêm o dinheiro investido no negócio até que, no IPO, recebem uma grande quantidade de recursos livres.

Para Juniac, o Brasil hoje é um dos mais importantes mercados no mundo todo, ao lado de China, Índia e Rússia (os chamados BRICs), já que são países que estão crescendo muito rapidamente. “E porque os bancos europeus e americanos estão interessados nesses mercados?”, questiona o sócio da Boston Consulting, já respondendo: “Porque eles não estão com um crescimento tão rápido e estável, os BRICs estão crescendo duas vezes mais rapidamente”.

O Brasil, no entanto, leva algumas vantagens ante os principais concorrentes emergentes. O executivo lembra, por exemplo, que a China é bastante interessante dado o tamanho da população, mas ainda é um mercado muito fechado. O mesmo acontece com a Índia, enquanto a Rússia é interessante também, mas muito instável. “O mercado brasileiro é muito atrativo nesse sentido, porque tem conseguido estabilidade, crescimento econômico e uma moeda forte”, diz.

O francês chama a atenção para o fato de que boa parte dos afortunados estão aplicando seus recursos localmente. “Muitos estão felizes em investir todo o dinheiro no Brasil, algo que provavelmente não acontecia há dez anos e que hoje ainda não acontece na Argentina”, lembra. Segundo Juniac, porém, é muito difícil mensurar o total de recursos brasileiros não registrados no exterior. Algumas entidades estimam esse valor entre US$ 100 bilhões e US$ 150 bilhões, diz.

Na opinião do executivo, quando o Brasil alcançar a nota de grau de investimento, mais riqueza será criada por aqui. “A taxa de juros poderá baixar ainda mais e isso ajudará na criação de riqueza, pois dará mais acesso ao crédito, o custo do dinheiro será melhor, entre outros fatores.”