Campos assombrada por 4 mil fantasmas

14 de março de 2008 10:27

Segundo a assessoria de Henriques, a folha de pagamentos com os nomes dos servidores desapareceu, mas há informações de que são pagos R$62 milhões em salários, por mês, sendo que R$34 milhões só com os temporários. Henriques assumiu, esta semana, o lugar do prefeito Alexandre Mocaiber (PSB), afastado do cargo por 180 dias a pedido do Ministério Público Federal (MPF). Ele é suspeito de integrar uma quadrilha que fraudava licitações públicas para a contratação de serviços terceirizados.

Na terça-feira passada, a Polícia Federal desencadeou a Operação Telhado de Vidro (nome de uma das empresas envolvidas), na qual 14 pessoas foram presas por suspeita de participar do esquema. O prefeito interino calcula que haja pelo menos 45 mil servidores municipais, o que representa mais de 10% da população do município, que é de 430 mil habitantes. Nas contas de Henriques, há 15 mil servidores ativos e inativos contra 30 mil terceirizados, ou seja, sem concurso público.

– Acredito que, após este recadastramento, encontremos de 4 mil a 5 mil servidores fantasmas – calcula Henriques.

Funcionários deverão apresentar contracheques
Segundo o prefeito interino, haverá cem postos, cada um com dez funcionários, para realizar o trabalho de recadastramento. Os servidores deverão apresentar o último contracheque, carteira de identidade e comprovante de residência. De acordo com a assessoria de Henriques, há suspeitas de que a ex-secretária de Controle de Campos Marilene Nunes, candidata a prefeita de São Francisco do Itabapoana, teria nomeado mil pessoas apadrinhadas, que não morariam em Campos.

– O que eu encontrei aqui é um verdadeiro escândalo. Cadeia é pouco para essas pessoas. Não se pode lesar os cofres públicos e ficar impune. Vamos apurar tudo, doa quem doer – disse.

O trabalho de investigação do MPF começou há oito meses, a partir de um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), indicando uma movimentação financeira incomum. Foi constatado, então, favorecimento de empresas e instituições filantrópicas por meio das quais funcionários terceirizados eram contratados por valores superfaturados. Parte dos contratos era mantida com verba desviada do Programa Saúde da Família, do Ministério da Saúde, e recursos oriundos dos royalties do petróleo.

Há 90 dias, a Polícia Federal também passou a apurar o esquema, informando que as fraudes totalizaram cerca de R$240 milhões. Henriques era vice-prefeito de Mocaiber (PSB) e tinha acabado de romper com ele, ingressando no PMDB.

Foram afastados de seus cargos o procurador-geral de Campos, Alex Pereira Campos, e os secretários municipais de Obras, José Luis Maciel Púglia, e de Desenvolvimento, Edilson de Oliveira Quintanilha. O secretário de Fazenda, Carlos Edmundo Ribeiro Oliveira, foi afastado, mas não teve a prisão decretada. O prefeito interino pretende mudar todo o secretariado. O clima é de desconfiança, ao ponto de Henriques estar usando os serviços de uma assessoria de imprensa particular.