Capital era rota do tráfico
Uma quadrilha internacional de traficantes que usava Brasília como base de envio de drogas ao exterior foi presa no último sábado quando tentava embarcar com destino à Suíça. A Polícia Federal chegou aos cinco homens dois bolivianos, dois brasileiros e um italiano depois de mais de três meses de investigação. Juntamente com os envolvidos, foram apreendidos 12kg de cocaína, quatro telefones celulares, além de dólares, euros, reais e bolivianos (moeda da Bolívia), que somam o equivalente a R$ 8 mil. A quadrilha levaria a droga para o exterior em fundos falsos de cinco malas.
Os agentes acreditam que a cocaína vinha da Colômbia ou da Bolívia. Os traficantes detidos no último sábado são os brasileiros Luciano da Silva Tavares, 32 anos, e Antônio Machado dos Santos, 48, além dos bolivianos Luís Horst, 40, e José Alejandro Rojas Gareca, 32, mais o italiano Antonello Parisi, 31. A prisão da quadrilha é mais uma confirmação de que Brasília já faz parte da rota do tráfico internacional.
O grupo levaria a droga até Zurique, passando por Lisboa, em Portugal. Mas a polícia conseguiu interceptar o bando na capital federal, antes do embarque para a Europa. Três dos traficantes foram detidos em frente a um hotel no Setor Hoteleiro Sul, antes de entrar no táxi que os levaria ao aeroporto. Um outro acusado conseguiu sair de Brasília, mas foi preso ao chegar a Curitiba. O quinto integrante da quadrilha foi detido no Aeroporto Internacional de Brasília
O começo
A investigação da Polícia Federal começou em dezembro do ano passado, com a identificação do boliviano Bruno Juan di Gioia. Ao chegar ao Brasil, ele esqueceu o passaporte no aeroporto de Fortaleza, no Ceará. A partir daí, os agentes começaram a investigá-lo. Em fevereiro deste ano, Bruno foi preso em Fortaleza quando tentava embarcar com passaporte falso em direção à Europa com outras 13 pessoas. Todas levavam cocaína na bagagem.
A maioria dos traficantes presos tinha endereço em Curitiba, o que chamou a atenção da Polícia Federal. Na mesma semana, um outro fato ajudou as investigações do caso. A brasileira Eliziane Cordeiro dos Santos foi presa em Metz, na França, quando estava na companhia de um português com nacionalidade suíça. A dupla carregava cocaína e estava em um trem a caminho de Zurique quando foi parada por policiais franceses.
Na França, Eliziane contou aos agentes que não era a dona da droga, mas que tinha sido contratada por um outro brasileiro morador de Curitiba, Antônio Machado dos Santos, para transportar a cocaína até a Europa. Os policiais franceses entraram em contato com a nossa Coordenação de Operações Especiais de Fronteiras e relataram o caso. Começamos a cruzar as informações e chegamos à conclusão de que Antônio Machado estava ligado aos traficantes presos em Fortaleza, em fevereiro, explica a superintendente da PF no Distrito Federal, Valquíria Andrade.
Os agentes da PF passaram, então, a monitorar todos os passos de Antônio Machado dos Santos em Curitiba e o seguiram em várias viagens pelo Brasil, a maioria com destino a Cuiabá. Na última sexta-feira, Antônio chegou a Brasília junto com Luciano Tavares, José Alejandro Gareca, Antonello Parisi e Luís Horst.
Os encontros
No sábado, parte da quadrilha se encontrou em um shopping no centro da capital para discutir a estratégia de retirar a cocaína do Brasil. Outro encontro foi realizado também em um hotel do Setor Hoteleiro Sul. Tudo foi monitorado pela Polícia Federal. No sábado, por volta das 16h, os agentes começaram a prender os traficantes.
O brasileiro Luciano Tavares conseguiu sair de Brasília, mas foi preso logo depois de chegar a Curitiba. Os outros quatro integrantes da quadrilha deveriam embarcar em um vôo da TAP com destino a Lisboa no final da tarde, de onde seguiriam para Zurique. Mas a polícia interrompeu seus planos.
Antônio Machado dos Santos, Luís Horst e José Alejandro Gareca foram detidos quando entravam em um táxi para ir ao aeroporto. Antonello Parisi foi preso no aeroporto antes de embarcar. Representantes das embaixadas da Bolívia e da Itália foram contatadas.
A superintendente Valquíria Andrade disse que outras pessoas podem estar envolvidas. Geralmente, quando se trata de tráfico internacional, as quadrilhas não são pequenas. Vamos continuar investigando porque acreditamos que pode haver outras pessoas envolvidas, explicou. Sobre a utilização do aeroporto de Brasília para embarques internacionais de traficantes portando drogas, a superintendente disse que a prática tem se tornado comum.
Do DF à Holanda
Outros casos de quadrilhas que usavam Brasília como base de envio de droga para o exterior também ganharam notoriedade na cidade. Em maio de 2005, a polícia prendeu o publicitário Michele Tocci, então com 33 anos, acusado de chefiar uma quadrilha internacional de ecstasy. Outras sete pessoas também foram detidas por estarem supostamente envolvidas com a quadrilha.
Elas eram moradoras de áreas nobres de Brasília, como o Lago Sul e o Lago Norte. Todas foram denunciadas pelo Ministério Público Federal como integrantes de uma quadrilha internacional.
Investigação da polícia mostrou que o grupo agiu durante mais de três anos, levando cocaína para a Europa e trazendo drogas sintéticas como o ecstasy para serem vendidas em festas e raves da cidade.
A droga exportada a partir de Brasília percorre, muitas vezes, um caminho maior dentro do próprio DF. Em agosto de 2006, a Polícia Civil prendeu nove pessoas ligadas ao tráfico de drogas para a Holanda. Um morador do Lago Sul, de 34 anos, traficava drogas sintéticas para Foz do Iguaçu, no Paraná, e de lá para o exterior. Mas o traficante ia buscar a droga exportada no Gama, onde o material era fabricado.