Caso Petrobras: dados eram de megacampo
Os dados sigilosos da Petrobrás furtados de computadores da americana Halliburton foram coletados na plataforma NS-21, conhecida também como Ocean Clipper, responsável pela descoberta gigante de gás natural batizada de Júpiter. A informação, antecipada pelo Estado na edição de sábado, foi confirmada pelas investigações da Polícia Federal. A descoberta foi anunciada em 21 de janeiro e, segundo a Petrobrás, poderia garantir a auto-suficiência brasileira no consumo de gás. A portuguesa Galp é parceira no projeto.
Ainda não há detalhes, porém, sobre o tipo de dados que estavam nos computadores. Na noite de ontem, reportagem da TV Globo revelou que, além dos quatro notebooks, dois discos rígidos e dois pentes de memória, também foram furtados outro computador, uma impressora e um gravador de DVD.
Na terça-feira, o superintendente da Polícia Federal no Rio, Valdinho Jacinto Caetano, havia afirmado que a hipótese de crime comum estava praticamente descartada porque os ladrões deixaram outros computadores no contêiner, levando apenas os discos rígidos. Agentes da PF apreenderam ontem em Macaé duas CPUs de computador que estavam na Halliburton. Esses equipamentos estavam dentro do contêiner e não foram levados.
Segundo ex-funcionários da Petrobrás, o transporte de informações estratégicas em contêineres não é comum, já que os dados podem ser transmitidos via satélite para a sede da estatal. Um experiente executivo com passagem pela empresa disse que as informações coletadas no serviço de perfuração costumam ser apagadas logo após a confirmação de recebimento na sede.
O professor da Coppe/UFRJ, Giuseppe Baccocoli, porém, diz que não é raro que prestadores de serviço da Petrobrás mantenham cópias dos dados para fazer relatórios após as operações. A Halliburton é especialista em serviços de avaliação dos poços de petróleo, como análise dos tipos de rochas e testes que indicam o potencial de cada poço. Não se sabe qual dos dois serviços foi prestado pela companhia no reservatório de Júpiter.
A plataforma Ocean Clipper pertence à americana Diamond, representada no Brasil pela filial Brasdrill, e é uma das duas únicas contratadas pela Petrobrás com capacidade para perfurar poços abaixo da camada de sal. A empresa já operou no bloco BM-S-9, onde a Petrobrás encontrou reservas de petróleo. Atualmente, está em manutenção no estaleiro Mauá, em Niterói, região metropolitana do Rio. Segundo observadores próximos, a embarcação já teria recebido a visita de uma equipe da Petrobrás responsável pela sindicância que apura o roubo das informações sigilosas.
A reportagem do Estado tentou conversar com representantes da Brasdrill, mas foi informada que não havia nenhum executivo na base de Macaé ontem.
Leilões
O presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, disse ontem que o furto não tem por que afetar os leilões de área de exploração pela Agência Nacional do Petróleo (ANP). São coisas distintas. Quem define o leilão é o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) e a ANP. Não é do âmbito da Petrobrás. O Ministério Público recomendou a suspensão dos leilões à ANP. Para Gabrielli, a tese de que o crime é questão de segurança nacional é uma hipótese, mas o furto comum também é.