Colombiano é suspeito de 300 mortes
Em uma operação policial em janeiro passado, foram descobertos US$ 81 milhões em dinheiro vivo em uma propriedade sua em Cali, na Colômbia.
“Você pode imaginar o poder de alguém que se dá ao luxo de ter esse dinheiro todo em casa”, disse à Folha o general Óscar Naranjo, comandante da Polícia Nacional da Colômbia.
“Certamente é dos narcotraficantes mais poderosos do hemisfério”, diz. Para Naranjo, é melhor que ele seja extraditado e julgado nos Estados Unidos.
“É mais importante romper o vínculo entre o chefão e sua organização para afetar a estrutura do comando”, diz. “Por isso é bom que ele fique longe da Colômbia.”
O general também conta que a Justiça americana tem mecanismos para estimular a colaboração do réu -a idéia é que Abadía revele detalhes da operação de seu cartel em troca de alguma regalia na pena.
Apontado como o principal chefe do Cartel do Vale do Norte, na Colômbia, Abadía tem dois apelidos: Chupeta e Lollipop. É tido como um dos herdeiros dos irmãos Rodríguez Orejuela, que lideraram o Cartel de Cali por anos.
Preso, mas no comando
Abadía começou sua incursão criminosa no fim da década de 80, quando foi aceito no Cartel de Cali e aprendeu como mandar cocaína para os Estados Unidos, México e vários países europeus.
Depois de adquirir experiência no tráfico internacional, aliou-se ao Cartel do Vale do Norte colombiano e passou a coordenar ações que resultaram na morte de vários rivais.
Anos depois, o traficante, temendo por sua vida, resolve se entregar à Justiça colombiana e é condenado a 20 anos de prisão por ter mandado 30 toneladas de cocaína do México para os Estados Unidos.
Mesmo preso, ele continua a comandar as ações do Cartel do Vale do Norte e não delata nenhum de seus aliados. Após sete anos, é solto.
Em 2004, o traficante tem a cabeça colocada a prêmio pelo DEA: a recompensa por informação do seu paradeiro é fixada em US$ 5 milhões. É acusado de tráfico internacional, assassinatos, seqüestros, tortura e lavagem de dinheiro.
Levantamentos conjuntos dos governos colombiano e norte-americano apontaram que Abadía construiu um império com casas, apartamentos e carros de luxo, além de dezenas de terrenos, na Colômbia e na Armênia.
“Ele é muito violento e cresceu no narcotráfico traindo seus sócios mafiosos, matou um a um”, diz Naranjo.
Atlético e obcecado pela forma física, sempre manteve academias luxuosas de ginástica para se exercitar nas mansões em que viveu.
Brasil como refúgio
Dos 12 narcotraficantes mais procurados da Colômbia, em lista emitida no final de 2005, cinco foram presos no último ano. Cada um em um país – Espanha, México, Cuba, Venezuela e, agora, Brasil.
“É sinal de que eles não suportaram a perseguição policial na Colômbia”, diz, orgulhoso. A Polícia Nacional colombiana tem 140 mil homens e é o equivalente à soma da Polícia Militar e da Polícia Federal no Brasil, sob a responsabilidade do
Ministério da Defesa.
Naranjo diz não saber se há outros chefões da droga colombiana no Brasil, mas diz que a prisão de Abadía é “exemplar” para que o país não se torne refúgio de outros.
“Que Chupeta tenha sido capturado em uma cidade enorme como São Paulo, onde é tão fácil ser desconhecido, é uma ação exemplar, mostra que eles serão capturados.”
Ele elogia a Polícia Federal brasileira. “Só quero parabenizar a Polícia Federal, dar minha gratidão, cooperação é algo que nunca é demais.”
Nos últimos 20 anos, Naranjo participou das operações que derrotaram os cartéis de Medellín e de Cali. O cartel do Norte del Valle, do qual Abadía era membro, é o único da velha geração que ainda existe.