Coluna: Bico sob suspeita, estrela temerosa

18 de setembro de 2007 11:32

O caso remonta a 1998, durante a campanha do hoje senador tucano Eduardo Azeredo para um segundo mandato no Palácio da Liberdade, a sede do governo do Estado. O esquema de arrecadação de fundos para a campanha do então candidato do PSDB (que disputava com o ex-presidente Itamar Franco), segundo inquérito da Polícia Federal, envolveria empresas estatais, empreiteiras e empréstimos bancários intermediados pelo mesmo protagonista das negociatas de compra e venda de apoios ao Planalto na administração Lula: o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza.

A contabilidade de Minas remontaria a R$ 100 milhões, que teriam beneficiado a escalada política de 159 candidatos a deputado e abasteceria cofres de 17 partidos, registra reportagem da Isto É, baseada em relatório da Diretoria de Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal.

Os petistas se sentiriam vingados com as tramóias que enlameiam os adversários tucanos. A vingança viria a cavalo, festejariam o ditado popular. Tudo, porém, fica no condicional. O volume de reais sob suspeita passeia por muitas mãos, mas ninguém se compromete. Entre os vários citados figura Walfrido Mares Guia. Ele foi vice de Azeredo no primeiro mandato. Era candidato a deputado federal em 1998. Quatro anos depois da campanha, ajudou o antigo chefe com um empréstimo para evitar que o responsável pelas finanças da malfadada campanha divulgasse um extenso dossiê com entradas e saídas de dinheiro de forma nada legal. Uma história que envolve políticos mineiros dos quatro costados e de variadas legendas.

Mares Guia hoje é o coordenador político do governo Lula. Ocupa gabinete vizinho ao do presidente da República. Dali comandou a operação salva-mandato de Renan Calheiros. E dali controla os acordos para aprovar a prorrogação da CPMF na Câmara e no Senado. Conversas que envolvem liberação de recursos públicos para emendas parlamentares e nomeações para satisfazer o apetite de deputados e senadores por cargos.

Mares Guia é do PTB. Exerceu o papel de ministro de Turismo no primeiro mandato de Lula. Ganhou a confiança do presidente e ascendeu ao Ministério das Relações Institucionais a partir deste ano. Trabalha bem pelo governo no Congresso. Não é raro vê-lo circulando pelos corredores verde e azul. Tal desenvoltura conta pontos. Volta e meia alguém incluía o nome do ministro na lista de eventuais candidatos a vice-presidente numa chapa apoiada por Lula em 2010.

Mas a realidade… conspira. Mares Guia vai depor na PF. Os agentes querem ouvir sua versão para os fatos apurados ao longo dos últimos dois anos, na esteira do mensalão dos 40. O chefe, quando o nomeou ministro, sabia das sombras que envolvem seu auxiliar direto. Nesse caso, não terá como alegar desconhecimento. Sacramentou-o no posto de coordenador porque, como sempre repete, ninguém é culpado de véspera. Até que o STF diga o contrário, o presidente vai continuar a navegar pelo mensalão. Agora, com sotaque mineiro.

Ana Maria Tahan escreve nesta coluna às terças-feiras.