Computadores confiscados

14 de maio de 2008 12:01

Técnicos dos ministérios públicos Federal (MPF) e do Distrito Federal (MPDF) começam a analisar hoje os dados recolhidos nos computadores da Universidade de Brasília (UnB). Os equipamento foram apreendidos ontem, em operação realizada por procuradores da República, promotores de Justiça, policiais federais e analistas da Controladoria Geral da União (CGU). Os investigadores querem saber tudo sobre os contratos firmados entre a instituição de ensino superior e suas fundações de apoio e destas com empresas privadas e órgãos públicos.

A ação de ontem é a primeira etapa de um pente-fino nas contas da UnB. Promotores e procuradores pretendem chegar ao nome de cada responsável por convênios e, principalmente, a origem e o destino do dinheiro. Se encontrarem irregularidades, vão abrir processos contra os envolvidos, assim como fizeram com os ex-diretores da Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec), após apuração que deu início a uma série de denúncias de mau uso de dinheiro público na administração da UnB e resultou na saída de Timothy Mulholland da reitoria da universidade.

O reitor temporário da UnB, Roberto Aguiar, confirmou que a ação visava à coleta de dados para investigações do MPF e MPDF. Documentos e dados apreendidos ontem também serão usados em auditoria da CGU, anunciada por Aguiar na semana passada. No fim da tarde de ontem, o vice-reitor temporário, José Carlos Balthazar, se reuniu com representantes da CGU. Os auditores já estão na universidade. Muitos deles não identificados, para manter o sigilo e garantir o bom andamento da investigação, comentou o secretário federal de controle interno da CGU, Clerênio Azevedo.

Ele explicou que a checagem nas contas da UnB são feitas anualmente, como em todas as universidades públicas. No entanto, ressaltou que a auditoria em andamento é especial, em função dos processos iniciados pelo MP e MPDF envolvendo as fundações (leia Entenda o caso). Nesse caso, contamos com auditores de fora, comentou Azevedo, sem detalhar a apuração. O vice-reitor disse que a reunião de ontem serviu para traçar as prioridades, mas ele não revelou quais são. Vamos fazer relatórios parciais conforme o andamento das investigações, comentou Balthazar.

Desligamento
Para realizar a operação de ontem, a UnB desligou a rede de informática às 19h de segunda-feira, por ordem da 12ª Vara da Justiça Federal. Os funcionários do Centro de Informática (CPD) passaram por revista, feita por seguranças da universidade. O CPD ficou fechado até as 13h45 de ontem. Tanto a intranet quanto a internet da instituição não funcionaram nesse período. Supervisionados por integrantes do MPF e do MPDF, policiais federais recolheram documentos, investigaram terminais de computadores e apreenderam equipamentos e discos rígidos.

Nenhum dos promotores de Justiça e procuradores da República deu entrevista. Mas um dos participantes da operação, o perito federal Guilherme Carvalho, disse rapidamente que os policiais recolheram dados de computadores de funcionários do CPD, que ficaram proibidos de entrar no prédio das 19h de segunda até as 14h de ontem. Alguns servidores e professores se aglomeraram em frente ao local, mas as aulas foram ministradas normalmente. Logo após saírem do centro, os agentes federais foram para a sala de reuniões da reitoria.

Exoneração
Na mesma noite em que a rede de informática foi desligada por ordem judicial, o diretor do CPD, Ricardo Puttini, perdeu o cargo. A direção da UnB, no entanto, nega uma relação entre a saída de Puttini e as investigações. A exoneração dele estava prevista. Faz parte das mudanças do processo de transição, afirmou o vice-reitor José Balthazar. Puttini havia sido nomeado pelo ex-reitor Timothy Mulholland. O professor Marcelo Ladeira, do Departamento de Ciência da Computação, assumiu a direção do CPD ontem.

Sem saber da operação, Ladeira foi ao centro no começo da manhã. Ele contou que os agentes federais fizeram cópias de e-mails mandados ou recebidos por funcionários da UnB nos últimos três meses. Ele não soube dizer quais os servidores tiveram as mensagens eletrônicas copiadas. Ressaltou que vai cooperar com as investigações. Vamos fazer uma gestão alinhada com a do reitor Roberto Aguiar, voltada para a transparência, garantiu Marcelo Ladeira.