Confira a entrevista do presidente da ADPF na coluna Eixo Capital

5 de agosto de 2014 19:17

Confira a entrevista concedida pelo presidente da Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal (ADPF) à coluna Eixo Capital, do jornal Correio Braziliense.

Coluna Eixo Capital: Que projetos em trâmite no Congresso a Polícia Federal trata como prioridade?

Marcos Leôncio: Nessa legislatura, tivemos importantes avanços quanto ao combate da criminalidade transnacional. Tivemos a aprovação da nova lei de organizações criminosas, da lei de lavagem de dinheiro, temos uma série de projetos relacionados ao combate ao tráfico de pessoas que ainda tramitam, que são instrumentos fundamentais para a Polícia Federal. Temos um projeto importante que é o que prevê o fim das custódias nas delegacias. A própria associação apresentou com o auxílio da deputada Rose de Freitas. Hoje, um terço das forças das polícias está desviada de função para cuidar da escolta e da custódia de presos. As pessoas confundem delegacia com cadeia.

Coluna Eixo Capital: Ter representantes da Polícia Federal no Congresso ajuda?

Marcos Leôncio: É importante ter parlamentares ligados ao tema da segurança pública, não necessariamente delegados. Justiça seja feita, todos os projetos aprovados receberam apoio muito além de bancadas de policiais. Esses parlamentares entenderam a importância do enfrentamento ao crime organizado e à criminalidade transnacional.

Coluna Eixo Capital: Toda vez que se fala de aumentar o poder da polícia, o MP reage. O que acha disso?

Marcos Leôncio: Existe uma questão corporativa, que é o receio de fortalecer a figura do delegado da polícia. De fato, existe uma visão distinta, o MP entende que a polícia trabalha para o Ministério Público. E os delegados entendem que o MP trabalha com a polícia. Nesses projetos que fortalecem a figura do delegado e um maior empoderamento da polícia, o MP tem se mostrado contra, mais por receio de dar poder à polícia do que por preocupação com a questão do compromisso social. Compete ao MP o controle externo da atividade policial e cabe a ele lutar para que a delegacia seja um local de atendimento ao cidadão, e não um local de depósito de presos.

Coluna Eixo Capital: O debate em torno da PEC 37 acirrou os ânimos?

Marcos Leôncio: Sim, a situação se agravou. Entendemos que o melhor sistema é aquele em que a polícia não se subordina ao Ministério Público, porque isso cria um desequilíbrio, com toda a estrutura do Estado contra o cidadão. Não tem que haver disputa predatória, paralela. É preciso trabalhar em conjunto, respeitando a autonomia de cada um.

Coluna Eixo Capital: Nessa época de eleição, o trabalho da PF é intensificado no combate à corrupção?

Marcos Leôncio: Nosso foco é no financiamento ilegal de campanhas, esquemas de caixa dois, de doleiros, ou para lavagem de dinheiro. Esse é o foco que tem chamado a atenção para que tenhamos eleições limpas, sem dinheiro oriundo de fontes ilícitas. A Operação Lava-jato é um exemplo disso, que certamente ajudou a um financiamento mais limpo nesta eleição.

Coluna Eixo Capital: As operações recentes podem contribuir para que esta seja uma eleição mais limpa?

Marcos Leôncio: Não temos a ilusão de que vai ser uma eleição limpa. Com a previsão de 380% de aumento de gastos, as eleições serão muito caras. É claro que não vamos ter garantia de que não haja caixa dois e fontes ilícitas. Mas temos percebido que, pela repercussão dos casos, as empresas estão receosas em fazer doações ilícitas. A discussão no STF sobre a possibilidade de pessoa jurídica doar ou não é uma contribuição importante, a PF ajudou nesse deitando luzes sobre temas como caixa dois e lavagem.