Copa-2014 é entrave para Rio-2016

13 de dezembro de 2007 10:08

O maior obstáculo da candidatura do Rio para a Olimpíada de 2016 está mais próximo que Chicago ou Tóquio, até agora as mais fortes cidades na disputa. Para sair vitoriosa, a capital fluminense terá que superar uma dificuldade caseira: a confirmação do Brasil como sede da Copa do Mundo de 2014.
Embora oficialmente o COI (Comitê Olímpico Internacional) assegure que não há relação entre os eventos, na sede da entidade, na Suíça, o choque brasileiro entre 2014 e 2016 é tema recorrente e visto como ameaça à pretensão do Rio.
Um dos membros do COI disse à Folha, pedindo para não ser identificado, que o tema foi abordado nos três dias de reuniões do Comitê Executivo da entidade, encerradas ontem. Segundo ele, cresceram os rumores, nos bastidores, de que os brasileiros poderiam retirar o Rio da disputa antes do prazo dado às pretendentes para responder ao questionário do COI, em 14 de janeiro.
Indagado, o presidente do COI, Jacques Rogge, negou conflito de interesses entre 2014 e 2016. “Não acredito que os membros do COI ligarão um voto potencial sobre 2016 a algo marcado para 2014. São dois eleitorados diferentes. Não acho que um impeça o outro. Mas eu não voto”, disse ele.
Gilbert Felli, diretor-executivo dos Jogos Olímpicos e um dos mais altos dirigentes do COI, prevê um debate acalorado sobre o tema. “É meio a meio. Vai haver opinião e argumentos para os dois lados.”
Para Erskin McCulough, que cobriu como jornalista todas as Copas e as Olimpíadas a partir de 1984 e hoje trabalha como consultor de comitês olímpicos da Europa, o clima é diferente entre os que votam. A maioria dos 115 membros do COI, que em 2009 escolherão a sede de 2016, não vê com bons olhos a “competição” entre os maiores eventos esportivos do planeta.
“Não agrada a ninguém servir de sobremesa para um evento como a Copa, principalmente no Brasil, onde o futebol é mais popular do que qualquer outra coisa”, diz o irlandês. “A opinião geral é que seria muito difícil arrecadar recursos necessários para dois eventos em intervalo tão pequeno.”
Mesmo a herança que a Copa-14 pode deixar em instalações esportivas e infra-estrutura para o Rio em uma hipotética Olimpíada dois anos depois é vista com certo ceticismo no COI. “Uma Copa tem 32 países participantes e só precisa de estádios de futebol”, compara o israelense Alex Gilady, um dos 115 membros do COI. “A Olimpíada tem mais de 200 países. Exige estrutura muito maior.”
Apesar das chances limitadas, a maioria dos especialistas acha certo que o Rio estará entre as finalistas que o COI anunciará em junho, ao lado de Tóquio, Madri e Chicago. As chances de Doha (Qatar) são consideradas remotas, enquanto que as de Baku (Azerbaijão) e de Praga (República Tcheca), quase inexistentes.
Ontem, o COI definiu, por sorteio, a ordem de apresentação das candidatas. O Rio será a quarta cidade. Chicago será a primeira, e Madri, a última.