Corrupção na PRF aumenta riscos nas estradas
Em 2003, ano em que o patrulheiro José Vargas de Oliveira foi julgado, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) resolveu reagir. Iniciou uma faxina interna para tentar se livrar da fama de ser uma das instituições federais mais vulneráveis à corrupção. Desde então, 132 policiais foram demitidos por envolvimento em irregularidades, entre os quais José Vargas, que fora condenado a 17 anos e seis meses de prisão por ter assassinado o caminhoneiro do qual tentara extorquir dinheiro no Rio. A corrupção dos patrulheiros e a frouxidão da fiscalização facilitam o livre trânsito de motoristas imprudentes e, com isso, ajudam a aumentar as estatísticas da violência nas estradas. As fraudes vão desde extorsão a motoristas infratores até cobrança de propina em larga escala para liberação de caminhões com excesso de peso, inflamáveis proibidos e outras irregularidades.
Na manhã de 6 de dezembro de 2001, o patrulheiro Vargas parou o caminhoneiro Nilson dos Santos no posto da PRF do quilômetro 78 da BR-101 (Campos dos Goytacazes). De acordo com o processo, ele exigiu de Nilson 48 garrafas de cerveja para liberar o caminhão. O motorista, que já havia sofrido a mesma extorsão do policial em viagens anteriores, resolveu reagir, e houve bate-boca entre os dois.
O caminhoneiro, mesmo contrariado, acabou cedendo.
Mas isso não foi suficiente.
Quarenta minutos depois, Nilson foi abordado novamente por Vargas, desta vez na cabeceira de uma ponte em Ururari, na BR-101. Após nova discussão, o patrulheiro matou o motorista com um tiro.
Se os mecanismos internos de punição da PRF fossem mais ágeis, talvez o crime pudesse ter sido evitado. Vargas tinha diversas anotações em sua folha disciplinar, por extorsão, maus tratos, agressão e corrupção, mas a PRF não conseguiu comprovar as denúncias, e a ficha do patrulheiro manteve-se imaculada.
Poeira no Asfalto prendeu 21 patrulheiros As mudanças na estrutura da PRF começaram na administração do então ministro Márcio Thomaz Bastos. Em novembro de 2004, uma ação conjunta da PRF com a Polícia Federal, batizada de Poeira no Asfalto, levou para a cadeia 42 pessoas de São Paulo, Rio e Paraná, entre elas 21 policiais rodoviários. Eles foram acusados de receber propinas sistematicamente para liberar caminhões com gasolina adulterada.
Um dos presos era o exsuperintendente regional da Polícia Rodoviária no Rio Francisco Carlos de Silva.
Um ano antes, Márcio Thomaz Bastos aumentara o salário básico da categoria para mais de R$ 5 mil por mês e ampliou para 9.500 o número de policiais da instituição. Em contrapartida, determinou o saneamento interno da polícia, ponto de partida para a melhoria da fiscalização das estradas. Nesse mesmo período, pelo menos outras seis das grandes operações de combate à corrupção tocadas pela Polícia Federal atingiram a Polícia Rodoviária Federal.
Em 2003, na chamada Operação Trânsito Livre, a PF prendeu outros 21 policiais rodoviários.
Eles e pelo mais 21 policiais federais e fiscais da Receita Federal foram acusados de cobrar propina de sacoleiros que faziam contrabando do Paraguai para o Brasil na Ponte da Amizade, em Foz do Iguaçu. A Corregedoria Geral da PRF abriu processo administrativo, mas até agora a investigação interna não chegou a lugar algum.
Até agora a Justiça Federal não permitiu o uso das escutas telefônicas no processo interno. São nossas únicas provas. Sem elas, não há como demitir disse um dos investigadores.
Resultado: os policiais retornaram ao trabalho e, mesmo diante de fortes evidências de corrupção mostradas nas gravações, eles continuam recebendo salários normalmente.
A PRF, mesmo assim, é hoje a instituição federal que mais demite por problemas relacionados à corrupção. Só este ano, 43 já foram mandados para a rua. Até o fim do ano, pelo menos mais dez devem perder o emprego.