Dantas: Liberdade relâmpago

11 de julho de 2008 10:38

A nova prisão é preventiva, por tempo indeterminado, e foi decretada pelo juiz da 6ª Vara Federal, Fausto de Sanctis – o mesmo que decidiu pela detenção temporária de Dantas na terça-feira, derrubada na quarta-feira à noite pelo STF.

Desta vez, Dantas é acusado de corrupção ativa, pela tentativa de subornar um delegado federal que atuava nas investigações da Operação Satiagraha. Também foram encontrados em sua residência, no Rio, documentos que indicariam uma rede de pagamento de subornos.

Em nova sentença, o juiz cita depoimento de Hugo Chicaroni (que continua preso na PF) declarando ter agido “representando interesses” do Opportunity ao fazer proposta de suborno a um delegado da PF. Em troca, pedia para livrar Dantas e seus parentes da investigação. Na operação, a PF encontrou R$1,28 milhão em espécie na casa de Chicaroni. A PF acredita que parte seria usada no suborno.

Uma segunda prova usada contra Dantas é um documento encontrado em seu apartamento, intitulado “Contribuições ao Clube”. O pedaço de papel manuscrito detalha pagamentos que chegariam a 30 milhões (não se sabe em qual moeda). Segundo uma fonte próxima às investigações, o valor na tabela estaria em moeda brasileira e ultrapassaria R$30 milhões. Alguns documentos, com menção a endereços nos EUA, também foram levados.

Em 2004, um homem chamado Pedro recebe 1,5 milhão a título de “contribuição para que um dos companheiros não fosse indiciado criminalmente”. Em outro, há menção a 2004 e à cifra de 25 milhões para a “campanha de Letícia”. Em uma data registrada como 1º de março, há indicação de pagamentos de faturas no valor de 2,5 milhões para “campanha de João à Presidência”.

Outra folha manuscrita, com timbre do Hotel Waldorf Astoria, em Nova York, traz a seguinte inscrição: “Usar o assunto da Polícia para produzir notícia e influenciar na Justiça”. A conclusão da PF é que a produção de “factóides pela quadrilha” serviria para “manipular a imprensa a fim de gerar notícias favoráveis à organização criminosa”. Ainda para a PF, Dantas “manteve pessoalmente e por meio de outras pessoas de sua organização contatos com vários jornalistas, ocasiões nas quais são discutidos o teor de matérias a serem publicadas”.

“Ficou claro que coragem e condições para tumultuar a persecução penal não faltam ao representado (Dantas)”, decidiu o juiz.

– O que existe é um clube de amigos, constam nomes e valores. É um documento que revela efetivamente a prática da propina por parte do grupo criminoso. É um elemento importante para demonstrar justamente o vinculo desse Daniel Dantas ao crime da corrupção ativa – disse o procurador Rodrigo De Grandis, responsável no Ministério Público pela operação, sobre os documentos encontrados na casa de Dantas.

Greenhalgh vai defender Dantas

Dantas, sua irmã Verônica e sete funcionários do Opportunity (outros dois beneficiados pelo habeas corpus estavam foragidos) deixaram a carceragem da PF em São Paulo às 5h38m de ontem, depois de uma longa madrugada desde o anúncio do habeas corpus do STF. A cópia do documento – anunciado às 23h30m de quarta-feira – chegou às 5h à Superintendência da PF na cidade. Após descansar, Dantas foi para o escritório de seu advogado, Nélio Machado, até ser preso novamente, às 15h.

Na hora da prisão, Machado dava entrevista na sede do Opportunity. Ele elogiava Gilmar Mendes, alegando que ele havia percebido que “a PF sai da linha vez por outra”. Também negou pagamento de propinas.

– Não tenho notícia de nenhum procedimento do senhor Dantas que não seja através de seus advogados. Eu repilo, na realidade, qualquer acusação sobre o suposto suborno em cenas que eu conheço apenas pela televisão. Eu não sei explicar (as imagens) porque não sei o contexto dessas imagens – disse, referindo-se aos monitoramentos da PF sobre a propina ao delegado.

Mais tarde, ao visitar Dantas na PF, Machado informou que o ex-deputado petista e advogado Luiz Eduardo Greenhalgh está trabalhando na defesa do banqueiro:

– O doutor Greenhalgh tem uma participação de aconselhamento da causa e atuará na fase judicial ao meu lado, defendendo Daniel Dantas. Ele está atuando como advogado, e não político do partido do governo.

Inicialmente, o MPF pediu também a prisão temporária de Greenhalgh, com o argumento de que pertenceria ao grupo de Dantas. Mas a Justiça entendeu que não havia provas concretas. Em telefonemas gravados, Greenhalgh aparece conversando com o chefe de gabinete pessoal do presidente Lula, Gilberto Carvalho. Pergunta se Carvalho tem conhecimento de nova investigação sobre Dantas. Carvalho responde apenas: “Vou ver” e não dá retorno.

O depoimento de Dantas está marcado para hoje à tarde.