Dantas tinha uma extensa rede de informações
A constatação está nos relatórios da inteligência da Polícia Federal anexados à sentença do juiz da 6ª Vara Criminal Federal de São Paulo, Fausto de Sanctis.
Além disso, segundo a PF, Dantas criou um emaranhado de empresas, muitas delas de fachada e em nome de laranjas, com o objetivo de realizar empréstimos vedados pela legislação que rege o mercado financeiro.
Os relatórios revelam ainda que o banqueiro preso anteontem fez movimentações financeiras sem autorização do Banco Central, desrespeitando a lei, provavelmente com a intenção de acobertar operações de lavagem de dinheiro.
O uso de informações privilegiadas foi revelado com a interceptação de uma mensagem de Renata Fiúza, funcionária do Opportunity, no dia 20 de maio. No e-mail, Renata fala em “utilizar informação que não é pública e que seria legalmente proibido de ser usada”, de acordo com o relatório de Inteligência Policial BSB 09/2008.
No relatório 07/2008 a PF explica como Dantas utilizava as chamadas insider informations para ganhar dinheiro ilegalmente no mercado.
“As participações acionárias na maioria das vezes são de apenas uma ação, condição necessária para que se possa candidatar ao conselho deliberativo das empresas que, por sua vez, toma as decisões que irão muitas vezes impactar o mercado financeiro do país, facilitando o acesso a informações privilegiadas e podendo efetuar diversos atos como comprar ações no mercado antes de divulgação do resultado da Assembléia, vender estas informações para corretoras de confiança, atuar de inúmeras maneiras, causando irreparáveis danos à credibilidade do sistema financeiro brasileiro”, diz a PF.
Uma das principais operadoras do esquema seria Verônica Dantas, irmã do banqueiro, que é sócia em nada menos do que 150 empresas do conglomerado Opportunity.
A estratégia seria criar um emaranhado de empresas em nome de laranjas, parentes ou funcionários do Opportunity com o objetivo de confundir a fiscalização. Assim, Dantas poderia transferir dinheiro de uma empresa para outra, mesmo que os empréstimos sejam vedados pela lei, fora do raio de ação das autoridades.
De acordo com a PF, o cipoal empresarial permitia a Dantas desviar recursos por meio de ações ilícitas, como manipulação dos resultados contábeis de empresas do grupo, pagamentos de despesas inexistentes de uma empresa para outra e contratos simulados. Para o Ministério Público Federal e a PF, isso constitui gestão fraudulenta de instituição financeira, já que a legislação proíbe empréstimos entre empresas ligadas ao mesmo grupo.
Até clube de futebol na Bahia recebeu dinheiro
Em dezembro, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) detectou, segundo o processo 0301235328, movimentações financeiras do Opportunity não comunicadas ao BC. A PF suspeita de lavagem de dinheiro.
O principal instrumento para a manipulação do conglomerado seria o Opportunity Fund, um fundo de investimentos sediado no paraíso fiscal das Ilhas Cayman destinado a investidores estrangeiros mas que, segundo as investigações, recebia recursos de pessoas residentes no Brasil. Entre 1992 e 2004 passaram US$2 bilhões (R$3,2 bilhões) pelo fundo.
Uma das práticas de Dantas era investir o dinheiro do fundo em empresas do próprio Grupo Opportunity. Segundo relatório da PF, em 2006, o fundo investiu indiretamente mais de US$200 milhões (R$620 milhões) em empresas com participação do grupo: Brasil Telecom (US$61 milhões), Telemar (US$93 milhões), iG (US$8 milhões), Opportunity Gama (US$7 milhões). Até o Esporte Clube Bahia teria recebido recursos. Segundo a PF, foram enviados US$32 milhões em 2006.