Delegadas da PF: lei, força e ternura
Estereótipos marcam a imagem do policial, com traços ainda mais fortes quando se trata da mulher policial. Desempenhando suas atividades em uma instituição predominantemente masculina e culturalmente identificada como viril, a delegada da Polícia Federal é coberta por características pouco ligadas à figura feminina.
Força, truculência, ausência de sensibilidade são, normalmente, os atributos associados ao policial. Quão próxima da realidade seria essa representação?
Muito pouco se sabe sobre os profissionais que atuam como delegados da Polícia Federal. Essa deficiência é ainda mais injustificável quando se reconhece que a PF tem ocupado um papel central, atuando nas apurações penais que mobilizaram a atenção da mídia e da sociedade nos últimos meses.
Os resultados de uma pesquisa feita pela Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) permitem delinear um retrato que destaca quem são as delegadas da PF; como avaliam propostas para melhorar a instituição; como se posicionam frente a temas importantes da agenda democrática.
Trata-se, contudo, de uma imagem com foco exclusivo na ala feminina da instituição. Apesar do recorte, as respostas trazem importantes aspectos da identidade da PF.
As mulheres representam só 15% do total de delegados. O índice de associação das delegadas à ADPF é significativo: 88%. Metade das integrantes respondeu a um questionário.
A primeira imagem revelada indica que a maioria das delegadas é jovem –média de 39 anos–, branca, casada e tem filhos. A maior parte ingressou na PF a partir de 2003; possui mais de um curso superior; 70% têm pós-graduação.
Antes de se tornarem delegadas, 60% eram servidoras do Poder Judiciário ou do Ministério Público, ou advogavam. Um pouco mais da metade pertence a famílias cujos pais têm escolaridade até o ensino médio. Apenas 20% têm pais com nível universitário.
Indagadas sobre os obstáculos ao bom funcionamento da PF, as delegadas indicaram as três principais dificuldades. Em primeiro lugar, a falta de autonomia administrativa e orçamentária. Em seguida, a falta de empenho governamental na implementação de políticas de segurança. Em terceiro, a interferência política na cúpula da instituição.
Quanto às propostas para melhorar o funcionamento da PF, três iniciativas foram priorizadas: a gestão por competência, a promulgação da Lei Orgânica da PF e a eleição do diretor-geral pelos integrantes da carreira de delegado.
Aos entraves de natureza institucional foram acrescidos problemas decorrentes de ser delegada e mulher, como a dificuldade na conciliação de deveres maternos e escala de plantão e a participação em operações longe de casa. Há demanda por um tratamento diferenciado.
Elas assumem posições democráticas. Por exemplo, 89% discordam de que a democracia tenha abalado a autoridade policial; 78% são contrárias à confissão sobre pressão.
O retrato revelado pela pesquisa, embora seja, em muitos aspectos, apenas um instantâneo, mostra que a instituição abriga policiais comprometidas com os direitos humanos e que o olhar feminino pode apresentar vantagens na aproximação da PF com a sociedade.