Delegado da PF detalha monitoramento de protestos durante visita do Papa
O telefone do delegado Anderson Bichara, da Polícia Federal, toca sem parar durante a entrevista. Ele é um dos coordenadores do esquema de segurança do papa Francisco durante a Jornada Mundial da Juventude, que começa na próxima segunda-feira no Rio de Janeiro, e o ritmo de trabalho dentro da Polícia Federal, na Praça Mauá, é frenético. Os 700 homens destacados pela PF – que vão ser os mais próximos do papa Francisco – já estão na cidade vindos de todo o País, principalmente de Belo Horizonte, Espírito Santo e Brasília.
“É prerrogativa da Polícia Federal a segurança dos chefes de Estado”, lembrou o delegado. Em entrevista ao Terra, Bichara disse que, independentemente dos protestos populares convocados ou dos que surjam, “tudo está pronto” e o esquema integrado montado vai ser fundamental para preparar o Brasil para a Copa do Mundo de 2014 e para os Jogos Olímpicos de 2016. Ele desconversou sobre o fato de aparentemente ser mais perigoso para o Papa ir à recepção no palácio do governo do Estado, onde ocorreram protestos recentemente, do que na comunidade de Varginha.
Terra: Tudo está pronto para o esquema de segurança da Jornada Mundial da Juventude?
Anderson Bichara: É um trabalho em conjunto entre Forças Armadas, Forças de Segurança do Estado, órgãos municipais. Cada um tem sua parte de responsabilidade. Mas o modelo de segurança que estamos usando é um passo à frente na segurança pública do País, já que integra todas as informações de todas as forças no Centro Integrado de Comando e Controle.
Terra: Nessa reta final, qual a maior preocupação de vocês?
A.B.: Na verdade, a preocupação é com os locais onde o Papa vai estar, com os deslocamentos, mas, principalmente, com a segurança mais próxima dele, que é de nossa responsabilidade. Mas não podemos deixar de prestar atenção no maior volume de passageiros nos aeroportos, controle de armas e vigilância marítima, que são atribuições nossas também.
Terra: Dizem que o papa Francisco não gosta muito de seguranças e adora quebrar um protocolo. Há um limite para essa quebra?
A.B.: Nossa responsabilidade é a segurança pessoal do Papa. Fizemos dois treinamentos de uma semana cada com a segurança do Vaticano, lá em Roma. Eles são quem cuidam dele no dia a dia. Conhecem seus hábitos e tudo isso é trabalhado em conjunto aqui. Falamos dos riscos de cada situação. O que queremos é evitar qualquer tipo de contratempo, por isso a agenda toda foi trabalhada em conjunto.
Terra: Foi a Polícia Federal quem vetou a ida do Papa ao Cristo Redentor?
A.B.: Essa questão é por conta do Vaticano com a Casa Civil e o governo brasileiro. A Polícia Federal só cuida da parte técnica depois da agenda definida.
Terra: Alguma coisa no hábito do Papa chamou a atenção de vocês na preparação do esquema de segurança?
A.B.: A segurança sempre implica riscos e estamos informados de tudo.
Terra: No que se refere à segurança pessoal do Papa, em que ponto as manifestações convocadas e previstas preocupam a PF?
A.B.: As manifestações são tratadas como informes do serviço de inteligência. E utilizaremos a estratégia de acordo com a necessidade. O planejamento está sendo executado e vamos agir dentro da necessidade.
Terra: Parece que chegamos a um ponto no Rio de Janeiro em que preocupa menos o Papa ir em uma comunidade como Varginha, na favela de Manguinhos, do que no Palácio Guanabara, sede do governo.
A.B.: Não diria isso. Existem os protestos e eles vão ser considerados na medida em que se tornem uma ameaça concreta.
Terra: Há algum lugar que preocupe mais?
A.B.: Nossa preocupação é que ele possa chegar e sair em segurança. Todos os lugares são mapeados. Temos segurança fixa, aproximada, móvel, PM, guarda municipal e tudo sob vigilância.
Terra: O fato de não termos terrorismo no Brasil acende mais o alarme pela possibilidade de algum atentado contra a vida do Papa?
A.B.: Preocupação é sempre a mesma.