Delegado da PF Gustavo Gatto fala da luta por autonomia do órgão

28 de abril de 2016 12:55

Era para ter escrito sobre o assunto antes, mas diante das pautas mais urgentes, acabei deixando para depois. Trata-se de uma entrevista do delegado federal Gustavo Gatto concedida ao jornalista Marcos Rodrigues, em seu programa de Rádio na Jovem Pan.

Antes de ir ao assunto, parabenizo Rodrigues pela escolha da pauta e pela excelente entrevista. Colocarei aqui a íntegra para os meus leitores. Marcos Rodrigues trata do tema com maestria e as declarações do delgado Gustavo Gatto nos garantem boas reflexões sobre o assunto.

Um fato que merece atenção logo de cara: nós não temos delegacia especializada de combate à corrupção. Uma lacuna imperdoável no Brasil, principalmente diante de tudo que estamos vendo quase que diariamente em função dos andamentos da Lava Jato.

Tive acesso à entrevista por meio do professor Yuri Brandão, que também chama atenção para este ponto em suas redes sociais. É inegável a importância do trabalho da Polícia Federal nos últimos anos.  Este é o motivo pelo qual é preciso que se brigue por mais autonomia para o órgão e que este não esteja tão atrelado ao Ministério da Justiça.

Gatto concedeu a entrevista o mês passado, mas nunca envelhece. O delegado federal ataca justamente neste ponto: a necessidade de mais autonomia administrativa para a Polícia Federal. No Manhã da Globo, pela Rádio Globo, já havia conversado com o delgado Políbio Brandão a respeito do mesmo tema. As opiniões dos delegados são bem semelhantes.

De acordo com Gustavo Gatto, a Polícia Federal precisa ser uma polícia de Estado, jamais de governo. Exato! Sendo assim, acerta o delegado ao avaliar que a subordinação ao Ministério da Justiça, como ocorre atualmente, traz a impressão de que a PF “pede favores”. Que o órgão pleiteia obséquios para seguir suas ações. Desta forma, quando for interesse do governo, basta matar por inanição.

Não se trata de uma autonomia para se fazer o que bem quiser, mas uma independência na forma administrativa, pois a Polícia Federal seguirá sendo fiscalizada, como tem que ser, pelos órgãos de controle.

Afinal, as ações policiais são acompanhadas pelo Ministério Público Federal, pelo Poder Judiciário e até mesmo pela Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Alagoas, como bem mostra o delegado durante a entrevista.

Talvez estejam nestas reflexões o motivo pelo qual uma polícia – que ainda é de governo, infelizmente – não tenha uma delegacia especializada no combate à corrupção. Vale ressaltar que tal combate envolve questões de inteligência, mecanismos para investigação, que requerem alto custo. O crime tende a se organizar e aperfeiçoar muito mais rápido que os investigadores. Ainda mais quando as práticas criminosas contam com a proteção de quem está no comando do aparelho estatal e pode influenciar nas investigações. 

Entrevista em vídeo pode ser vista AQUI.