Delegado é suspeito de roubo em falsa blitz

5 de setembro de 2007 10:57

Um delegado da Polícia Civil e um agente penitenciário foram presos ontem pela Polícia Militar, acusados de realizar uma blitz fora da sua área de atuação e roubar motoristas numa das principais avenidas de Niterói, na região metropolitana do Rio.

Delegado-adjunto da 50ª Delegacia de Polícia (Itaguaí), Célio Eduardo Alcântara Erthal Rocha comandava a blitz na zona sul de Niterói, a cerca de 50 quilômetros da sua área. O outro acusado é Marcelo Carvalho Oliveira, agente do Desipe (Departamento do Sistema Penitenciário).

A ocorrência contra Rocha foi registrada pela noiva dele, a delegada Raíssa Cellis, que será investigada pela Corregedoria da Polícia Civil (veja texto ao lado) por suspeita de tentar amenizar a situação.

A Folha não conseguiu localizar os advogados de Rocha e de Oliveira. Eles prestaram ontem depoimento à polícia e foram liberados. Negaram os crimes e não deram entrevistas.
A dupla foi presa na madrugada de ontem por policiais militares do 12º Batalhão de Polícia Militar e levada para 78ª DP (Fonseca), ambos em Niterói.

Apesar das queixas de assalto, o caso foi registrado pela delegada Raíssa inicialmente apenas como abuso de autoridade. No entanto, eles serão investigados pela corregedoria também pela acusação de roubo.

Na delegacia, Rocha e Oliveira teriam agredido verbalmente os policiais militares responsáveis pela prisão e foram reconhecidos por uma das vítimas de assalto, de acordo com a PM.

Pistola raspada
Foram apreendidos com a dupla um Santana verde, com giroscópio acoplado, um revólver e duas pistolas -uma delas estava acautelada na 50ª DP com a numeração raspada e era usada ilegalmente pelo policial.

De acordo com os PMs, a dupla e mais dois homens que seriam policiais civis assaltaram o motorista de um táxi em Icaraí, na zona sul de Niterói, e, pouco depois, no mesmo local, pararam a picape de um supervisor de vigilância, levando documentos do motorista e R$ 70 em espécie.

A terceira vítima seria um dentista, abordado no centro de Niterói.

O delegado e os outros integrantes do grupo se envolveram numa briga numa casa noturna no centro de Niterói. Com o tumulto, a Polícia Militar foi chamada e prendeu Rocha e Oliveira -os dois outros homens fugiram.

Na delegacia, o policial e o agente foram reconhecidos pelo motorista da picape.

Inquéritos
A Corregedoria da Polícia Civil anunciou que pedirá o afastamento de Rocha. A delegada Ivanete Fernanda de Araújo, da corregedoria, disse que o delegado vai responder a dois inquéritos.

“Não temos elementos para mantê-lo preso em flagrante, mas ele já está respondendo a dois inquéritos, um criminal e outro administrativo”, afirmou. “Também estou pedindo o afastamento dele do cargo enquanto durar a investigação. Mas essa decisão é da chefia de Polícia Civil.”

O chefe de Polícia Civil, Gilberto Ribeiro, disse que há pontos conflitantes na ocorrência que precisam ser investigados, como o fato de o delegado estar atuando fora da sua área de cobertura. Também afirmou ter determinado uma “apuração rigorosa”.

A delegada Ivanete acrescentou que, se necessário, a corregedoria poderá pedir a prisão temporária ou preventiva do delegado durante as investigações. Rocha tem menos de dois anos na instituição e pode ser exonerado.

No dia 15 de agosto, dois cabos do Corpo de Bombeiros e um delegado federal aposentado usaram uniformes falsos da Polícia Federal para simular uma blitz e tentar roubar e seqüestrar um empresário numa das principais avenidas da Barra da Tijuca, zona oeste do Rio.

SUSPEITOS DE AGREDIR OFICIAL SÃO PRESOS NO RIO
Três dos cinco homens acusados de torturar uma oficial da PM no domingo, em Niterói, região metropolitana do Rio, foram presos ontem. Eles foram reconhecidos pela vítima, que tentou fugir dos bandidos, mas só conseguiu na terceira tentativa, já no alto de um morro da cidade, o Morro do Castro. Até a tarde de ontem, dois suspeitos estavam foragidos. Os policiais prenderam o suspeito Rodrigo Rodrigues Guimarães, 21, em sua casa no bairro de Tenente Jardim, em São Gonçalo. Guimarães levou os policiais aos suspeitos Raphael Souza Moreira, 22, e Diego Felipe Menezes Vianna, 20, que estavam no morro do Castro. Os outros dois suspeitos foragidos são Wallace Muniz de Carvalho, 30, e Jefferson Luiz Gomes de Oliveira, 23. A reportagem não teve acesso aos presos.

Noiva do acusado, delegada será investigada por fazer a ocorrência
DA SUCURSAL DO RIO

A Corregedoria da Polícia Civil investigará a conduta da delegada que registrou a ocorrência contra o delegado Célio Eduardo Alcântara Erthal Rocha, acusado por policiais militares que o prenderam de montar blitz para roubar motoristas em Niterói. A policial é noiva de Rocha, segundo a corregedoria.

Raíssa Cellis, da 78ª DP (Posse), foi gravada por equipe da Rede Globo, em uma conversa informal, tentando amenizar a situação de Rocha.

“Tem que ter parcimônia nas coisas, porque vai passando no boca-a-boca. A história aumenta de uma maneira que não é aquilo que aconteceu. Como, na hora, ele [vítima] ficou nervoso, deu a carteira junto. De repente, ele [delegado] esqueceu de devolver. Não tem como pegar e massacrar”, disse.

A delegada também comentou a relação entre as polícias civil e militar.

“Estamos tentando esclarecer o que está acontecendo, já conversei com os policiais, com as outras partes. Todo mundo está tentando entrar em um entendimento. As polícias são amigas”, complementou.

A Corregedoria da Polícia Civil informou que Raíssa Cellis também vai prestar esclarecimentos sobre a sua conduta e sobre as declarações divulgadas pela imprensa.
“A delegada plantonista, que é regularmente lotada na 78ª DP, terá que explicar a conversa informal que teve com os envolvidos, que foi gravada pela TV Globo. Também terá que esclarecer por que estava atuando no caso, que foi registrado por outro delegado, por volta das 4h, já que seu horário de entrada é às 8h”, disse a corregedora Ivanete Fernanda de Araújo. (MB)

Suspeito de atacar delegado nega envolvimento
DA SUCURSAL DO RIO

Suspeito do atentado contra o delegado Alexandre Neto, o sargento da PM (Polícia Militar) Márcio de Souza Barbosa apresentou-se à polícia e negou envolvimento no crime. O Ministério Público Federal requereu à Polícia Federal abertura de inquérito para apurar se o caso tem relação com as investigações sobre a máfia dos caça-níqueis, que relaciona policiais à prática de corrupção.

Neto fez ontem a segunda cirurgia na mão direita, atingida pelos disparos. Os médicos retiraram seu dedo médio, que apresentava perda óssea. O dedo indicador foi colocado no lugar do médio -segundo os médicos, sem o dedo médio, o movimento da mão ficaria prejudicado.

Neto foi baleado em Copacabana no domingo.

A apresentação do PM suspeito foi anteontem à noite. Barbosa, do 19º Batalhão, entregou duas armas e o carro para que a Polícia Civil faça perícia. Em depoimento, ele negou ter baleado Neto.

Em fevereiro, o sargento e Neto brigaram. O delegado foi algemado e preso. Depois, ele passou a investigar os policiais da guarnição que o prendera. Teria descoberto que eles recebiam dinheiro dos donos de caça-níqueis.

Essa é uma das hipóteses para o crime. A outra é um vingança do grupo “Os Inhos”, ligado a Álvaro Lins, que ontem negou ter envolvimento com o episódio. Há outra hipótese: se o atentado tem relação com supostas acusações de Neto contra policiais e funcionários do Instituto Médico Legal e da Delegacia de Repressão aos Crimes contra a Saúde.