Delegado sobrevivente conta os momentos finais de acidente com bonde no Rio

2 de setembro de 2011 14:45

Sobrevivente do acidente de sábado (27) com um bonde em Santa Teresa, no Rio de Janeiro, relatou ao Jornal da Globo, nesta quinta-feira (1º), o drama vivido nos momentos finais da tragédia que deixou cinco mortos.

Ainda internado, o delegado de PF,  Orlando Moreira Nunes quebrou o nariz, o braço e enfrenta a maior perda de todas: a filha de 12 anos, Maria Eduarda, que morreu no acidente.


JG:
O que você lembra do momento em que o bonde virou?


Orlando:
“Minha esposa e minha filha se acomodaram junto ao motorneiro, junto à cabine de comando, e eu exatamente atrás, em pé, ao lado da grade. Nesse momento, percebi que houve uma troca de comando. Tinha um senhor alto, de bigode que estava sem farda, com uma roupa normal, que estava ali na posição de motorneiro. E veio embarcando um senhor negro de camisa branca, de suspensório, que depois vim a saber que era o senhor Nelson que era muito conhecido lá na área”.

O motorneiro Nelson Correia da Silva, de 57 anos, morreu no acidente. Ele era um condutor experiente e cauteloso, segundo os moradores de Santa Teresa. Um processo que deveria ser mecânico era feito manualmente. O freio já era uma preocupação.


Orlando:
“O bonde começou a pegar velocidade. Ele procurou o freio e o freio não respondeu. Ele tentou várias alavancas, mexeu de um lado, mexeu do outro. Tentou mexer em cima de algo que me pareceu ser um freio de emergência, um segundo freio. Nada disso dava certo. Ele tomou consciência de que o bonde estava sem freio, descendo a ladeira desgovernado. Ele disse: ‘Tá sem freio! Tá sem freio!’ As pessoas muito aterrorizadas. Teve uma curva para esquerda. Nessa curva, percebi que a minha mulher foi jogada para fora do bonde. O bonde já estava descarrilando, virando, e aí, de repente, apareceu um poste à frente. Alguma coisa como tentar desviar, um barulho grande e quando eu me vi estava embaixo daquilo tudo com muitas pessoas em cima de mim, muitas ferragens”.

Em 2009, um outro acidente matou uma professora. Segundo a perícia, o bonde perdeu o freio e bateu num táxi. Documento do inquérito mostrava que a própria empresa responsável pelos bondes sabia que os veículos ofereciam risco à população.

Era esse o caso do bonde número dez, um dos veículos que não foram modernizados. Nele estavam Orlando, a mulher, a jornalista da TV Globo Daniela Dourado, e os dois filhos.

“Nós perdemos filha de 12 anos que estava começando a vida”, disse Orlando.

ADPF/RJ lamenta acidente

A diretoria regional do Rio de Janeiro lamenta a morte da filha do delegado associado Orlando Nunes, vítima do acidente com um bondinho de Santa Teresa (RJ) ocorrido no último sábado, 27. A ADPF/RJ espera rigorosa investigação dos fatos e informa que estará atenta sobre a tramitação do caso.