Delegados suspeitos de extorsão são interrogados em SP

4 de outubro de 2007 09:40

A Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo interrogou ontem os delegados Pedro Luís Pórrio e Irani Guedes Barros, suspeitos de exigir dinheiro para não levar à prisão o narcotraficante colombiano Juan Carlos Ramírez Abadía. As duas supostas extorsões relatadas por integrantes do grupo de Abadía teriam ocorrido no ano passado, quando os dois delegados eram do Denarc (departamento de narcóticos).

O interrogatório de Pórrio e Barros aconteceu após a Folha revelar ontem que comparsas do traficante haviam formalizado as acusações de extorsão mediante seqüestro. Além dos dois, ao menos dez policiais são investigados por suspeita de extorquir Abadía. Eles são do Detran (polícia de trânsito) e da delegacia fazendária.

A investigação contra os policiais começou em agosto, também a partir de reportagem da Folha. Pórrio nega ter exigido US$ 800 mil para não manter presa a mulher do empresário Daniel Maróstica, comparsa de Abadía. Barros teria recebido US$ 280 mil do colombiano para libertar outro aliado do traficante que fora seqüestrado pelos policiais.

Ontem, o delegado Francisco Alberto Souza Campos, chefe da corregedoria, evitou dar detalhes sobre a investigação. Ele se negou até a responder quais são os crimes investigados.

Campos afirmou que a Justiça Federal havia decretado segredo no caso. Não quis revelar o nome do juiz que tomara a decisão. Após ser informado pela reportagem de que a Justiça Federal não tem tal atribuição, já que crimes praticados por policiais são de competência estadual, o corregedor mudou a versão. Afirmou que o Dipo (Departamento de Inquéritos Policiais e Polícia Judiciária), do Tribunal de Justiça, era o responsável pelo segredo. A Folha não conseguiu confirmar a informação no TJ.

Ontem à noite, o delegado Fernando Costa Neto, também da corregedoria, interrogou Abadía sobre o caso no prédio da Justiça Federal da avenida Paulista, para onde foi trazido de Mato Grosso do Sul. Costa Neto fugiu da imprensa por volta das 22h.

O Gaeco, grupo do Ministério Público que investiga o crime organizado, tentou ouvir Abadía sobre a suposta extorsão, mas o traficante usou o direito constitucional de ficar em silêncio, segundo o promotor Arthur Lemos Jr.

O advogado do colombiano, Sergio Alambert, disse que o silêncio faz parte da estratégia de defesa. Abadía quer ser extraditado o mais rapidamente possível para os EUA e teme que o envolvimento num processo de corrupção policial possa retardar sua ida para aquele país.

Alambert disse que Abadía quer ser extraditado por ter bens materiais e informações para negociar a redução de sua pena nos EUA. Lá, ele é acusado de ter ordenado 15 assassinatos e de tráfico de cocaína.

Em seu primeiro depoimento ao juiz federal Fausto Martin de Sanctis, de quatro horas e meia, Abadía confirmou o que dissera à PF quando foi preso em 7 de agosto. Disse que entrou no país com US$ 4 milhões “para sobreviver porque era procurado em seu país”. Confessou os crimes de lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e uso de documentos falsos. Negou ter praticado corrupção. À PF ele dissera que pagava US$ 200 cada vez que seus passaportes falsos eram carimbados em Foz de Iguaçu.

A mulher de Abadía, Yessica Paola Rojas Morales, também foi interrogada e negou seu envolvimento na quadrilha.