DEM prepara incursão às urnas presidenciais depois de 21 anos

17 de setembro de 2007 10:23

Na primeira eleição presidencial sem a fotografia de Lula na urna eletrônica, a novidade pode ser a volta do antigo PFL à disputa. Ausente da cabeça de chapa desde 1989, a nova geração pefelista, agora rebatizado Democratas, se prepara para refazer pela centro-direita o caminho que Lula e o PT percorreram pela centro-esquerda até se viabilizarem como alternativa real de poder: disputar eleições majoritárias com candidaturas próprias.

“Uma candidatura presidencial não se constrói da noite para o dia. O PT mostrou isso ao país”, diz o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (BA), 28 anos. “Time que não disputa campeonato não tem torcida. O presidente Lula se elegeu na quarta tentativa”. Um dos líderes do movimento “Xô CPMF”, o deputado Paulo Bornhausen (SC), 44 anos, assina embaixo: “Não temos condições de sobrevivência na forma do conforto”, diz. Por “forma do conforto” ele entende a aceitação de que a disputa em 2010 será entre o PT e o PSDB, com Ciro Gomes (PSB) como opção.

O primeiro teste dessa nova geração é a eleição de 2008, que tanto pode selar definitivamente o rompimento da aliança com o PSDB como alterar o plano de vôo para 2010. O Democratas decidiu lançar candidatos nas 100 cidades-pólo do país, planeja disputar na maioria das capitais e, sobretudo, manter o controle das prefeituras de São Paulo e do Rio de Janeiro. A aliança do governador José Serra com o prefeito Gilberto Kassab é o que hoje ainda segura a aliança entre as duas siglas. Se os tucanos colaborarem com a vitória de um Democrata na maior cidade do país, e o terceiro orçamento da República, o DEM voltará a ter no horizonte uma parceria com o PSDB.

A aliança é praticamente insustentável na Bahia, um dos berços do pefelismo, onde o DEM vê nos tucanos uma força auxiliar do governador Jaques Wagner. O PSDB é o partido que passou a acolher todos os antigos deputados, prefeitos e vereadores carlistas interessados em aderir ao governo petista. O candidato Democrata à prefeitura de Salvador deve ficar entre os deputados ACM Neto e José Carlos Aleluia, de vez que um acerto com o ex-carlista Antonio Carlos Imbassahy (PSDB) está a cada dia mais inviável. Outro herdeiro da antiga geração pefelista, Paulo Bornhausen, deve disputar em Florianópolis. Em Porto Alegre, o nome em vista é o do deputado Onyx Lorenzoni, 53 anos, líder da bancada na Câmara.

A troca de guarda no DEM-PFL foi planejada. A mudança no discurso, também. Em forma e conteúdo. O partido fez uma pesquisa para desenhar o perfil do eleitorado brasileiro. Descobriu o que já suspeitava: há um espaço enorme na chamada centro-direita, crítica ao PT e conservadora, para ser ocupado. No discurso, o DEM vai enaltecer a “lógica do mérito”, como diz ACM Neto, sem contudo desmerecer os programas de inclusão social. “A lógica não pode ser a dependência do Estado, mas a de estimular as pessoas a vencer na vida”, explica. O Democratas também recorreu a especialistas do PP espanhol do ex-primeiro ministro espanhol José Maria Aznar, e os deputados têm se revelado ouvintes aplicados nos seminários sobre telegenia, que tratam sobre a utilização dos veículos de comunicação. Para cuidar da forma propriamente dita, o partido recorreu à produtora Paula Lavigne, que passa a responder pelos programas de televisão do DEM – o objetivo é encontrar uma nova linguagem para as transmissões eleitorais, em busca de um público mais jovem.

Segundo o presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), 37 anos, a eleição de Lula encerrou um ciclo que começou com a criação da Aliança Democrática, a parceria PMDB-PFL que acabou com o regime militar. Só na disputa nacional ainda há quadros remanescentes daquela transição. Mas também na comunicação pode-se observar “o fim de um ciclo” com o “esgotamento da linguagem” no estilo Duda Mendonça e Nizan Guanaes, entre outros. Hoje, os comerciais já não causariam tanto impacto quanto em eleições passadas. “Estamos procurando um novo padrão, queremos falar com o público mais jovem”, diz. “Se o ciclo está mudando e nós vamos compreender bem essa linha, só o tempo dirá”.

A última eleição que o PFL-DEM disputou com nome próprio foi a de 1989. O candidato Aureliano Chaves ficou em décimo lugar, atrás inclusive do candidato do ex-Partido Comunista Brasileiro e hoje PPS, Roberto Freire. A maior promessa do partido, o deputado baiano Luiz Eduardo Magalhães, morreu prematuramente em 1998. Depois disso, a senadora Roseana Sarney, hoje no PMDB, ensaiou uma candidatura competitiva em 2002, mas foi abatida na decolagem quando a Polícia Federal apreendeu pouco mais de R$ 1 milhão em escritório em São Luís, dinheiro que o advogado Saulo Ramos, em seu livro de memórias, diz que era para pagar despesas da pré-campanha.

Nesse período, o PFL-DEM definhou. Em 1998, elegeu 105 deputados federais, em 2002 caiu para 84 e, na eleição passada, bateu em 65 (está com 59). Hoje só dispõe de um governador, José Roberto Arruda (DF) e suas posições mais vistosas são as prefeituras de São Paulo e do Rio. Um quadro que a nova geração julga capaz de reverter disputando os campeonatos das três divisões. Mas no melhor estilo da geração que a antecedeu, trata de sobreviver sem dinamitar pontes. Enquanto tucanos como Aécio Neves e Arthur Virgílio Neto falam em aliança natural com o PT, o DEM discretamente explora outras alternativas no quadro sucessório. Exemplo: o bloco de esquerda formado por PSB, PCdoB e PDT, que tem no deputado Ciro Gomes um candidato competitivo para as eleições de 2010.