Denúncias atingem ex-cúpula da PF indicada por Paulo Lacerda

10 de dezembro de 2007 13:44

O principal deles é o delegado Zulmar Pimentel, ex-diretor executivo e o homem que organizou e deu vida às operações que nos últimos cinco anos tornaram a Polícia Federal uma vitrine no combate à corrupção. Pimentel é hoje o chefe da Interpol (Polícia Internacional) para a América Latina, mas poderá ser afastado caso a ministra do Superior Tribunal de Justiça, Eliana Calmon, acate a recomendação do Ministério Público Federal.
O ocaso de Pimentel acaba facilitando uma mudança mais profunda na estrutura da Polícia Federal, uma dança de cadeiras que começou a ser operada a partir da sucessão de Lacerda pelo delegado Luiz Fernando Corrêa. Com a antiga diretoria, saem de cena outros dois policiais denunciados no mesmo caso de vazamento de investigação sigilosa: o ex-superintendente do Ceará, João Batista Santana, aposentado, e o delegado Marco Antônio Mendes Cavaleiro, assessor especial do senador Romeu Tuma (DEM-SP).
No mesmo grupo estão também outros dois delegados federais, que não foram denunciados agora, mas estão sob investigação, o ex-superintendente de Sergipe, Rubem Patury, e o secretário de Segurança do governador da Bahia, Jaques Wagner, Paulo Bezerra. Os cinco delegados fazem parte de um grupo de federais que tinha influência desde a época em que a corporação era dirigida por Tuma – um policial civil que operou dirigiu o Deops paulista na ditadura, mas ganhou notabilidade como diretor da Polícia Federal entre 1983 e 1992. A queda desse grupo, por ironia do destino, fecha o ciclo da gestão de Lacerda e apaga os últimos vestígios da longa era Tuma no órgão.
A denúncia também demonstra que, se é capaz de cortar na própria carne, a Polícia Federal se transformou numa instituição cada vez menos suscetível às interferências políticas.
Os cinco delegados foram apanhados em meio às investigações que desembocaram na maior ofensiva contra a corrupção em órgãos públicos, a Operação Navalha, de abril deste ano, que apanhou o dono da Construtora Gautama, Zuleido Veras, vários deputados federais e defenestrou do cargo o ex-ministro das Minas e Energia, Silas Rondeau, suspeito de ter recebido R$ 100 mil de propina do empreiteiro.
Tudo começou em 2005 com uma investigação interna, que apurava indícios de promiscuidade entre o ex-superintendente de Sergipe, Rubem Patury, e pessoas ligadas a Zuleido Veras. Descobriu-se então que o empreiteiro havia pago a festa de posse de Patury como superintendente, na época uma bagatela de R$ 7 mil.
A investigação mirava, no entanto, também outros dois delegados, Paulo Bezerra e o atual superintendente da Polícia Federal na Bahia, Antônio Cesar Fernandes Nunes, apontados no relatório da própria polícia como suspeitos de repassar informações a empresários que estavam sendo investigados.
Os trechos de diálogos transcritos pela procuradora apontam que o delegado Marco Antônio Cavaleiro teria sido informado por Zulmar Pimentel sobre a investigação em curso (chamada na época de Octopus) e vazado as informações sigilosas para o ex-superintendente do Ceará, João Batista Santana, que já estava sendo investigado há semanas por supostas irregularidades quando ocupou o mesmo cargo na Bahia.