Desentendimento com Yeda

25 de janeiro de 2008 10:54

A governadora Yeda Crusius disse ontem que não quer que o caso se transforme numa investigação “em cima do governo”.

Yeda deixou claro não ter gostado de como a Polícia Federal (PF) agiu – fazendo contato direto com a procuradora-geral – e destacou que o órgão não pode “convocar” autoridades subordinadas ao governo do Estado. Em nenhum momento a PF utilizou a expressão “convocação” ao se referir à procuradora.

– A Polícia Federal não pode convocar, isso fere completamente o equilíbrio federativo. Tem de haver definição de espaço. Todas as tribos que eu conheço sabem disso. Eu não me meto na Universidade de Santa Maria. O relacionamento tem de ser de muito respeito, civilizado. Eu já demonstrei que quero investigação. Não me transformem isso numa investigação em cima do governo estadual – disse Yeda à Rádio Gaúcha.

O chamado da procuradora-geral para dar informações no inquérito foi noticiado por Zero Hora na edição de quarta-feira. A reportagem informava que Eliana seria “chamada” pela PF. Os federais querem explicações sobre um parecer assinado pela procuradora autorizando a migração do contrato do Detran com a Fundação de Apoio à Tecnologia e Ciência (Fatec) para a Fundação Educacional e Cultural para o Aperfeiçoamento da Educação e da Cultura (Fundae).

A rapidez com que o parecer foi emitido – em um dia – chamou atenção dos policiais envolvidos na investigação que resultou na Operação Rodin, em 6 de novembro. Naquele dia, 13 suspeitos foram presos, entre eles, Flávio Vaz Netto, procurador do Estado e então diretor-presidente do Detran.

– A procuradora foi convidada e tem foro para decidir quando e onde será ouvida. Queremos saber se houve influência na rapidez com que o parecer foi dado pelo fato de ele (Vaz Netto) ser membro da procuradoria – disse ontem o delegado Ildo Gasparetto, superintendente da PF.

Yeda anunciou que o secretário da Segurança, José Francisco Mallmann, deverá “pedir um relacionamento respeitoso com o chefe nacional da Polícia Federal” (referindo-se ao diretor da PF, Luiz Fernando Corrêa). Mallmann conversou ontem com Gasparetto.

– O delegado que está conduzindo esse caso (a Rodin) é polido, educado. Se um escrivão ligou para a procuradora, não devia, não é a forma correta. E talvez a pessoa (que ligou) tenha se expressado mal. Acredito que tenha sido um mal-entendido. Jamais a Polícia Federal teria intenção de desrespeitar alguém – ponderou Mallmann.

Tarso afirma que não haverá “intervenção política” na PF
Conforme o delegado Gasparetto, um ofício da PF intitulado “convite para entrevista” foi recebido pela Procuradoria-Geral do Estado (PGE) no dia 22, às 17h5min.

– A ligação deve ter ocorrido no sentido de verificar se ela recebera o documento e se gostaria de marcar a data. O que vale é o ofício. Se fosse uma intimação, e não um convite, teria de ser encaminhada ao superior da procuradora (no caso, a governadora) – explicou o superintendente.

Gasparetto lembrou não ter ficado “ofendido” com o fato de uma comitiva da PGE ter ido à superintendência buscar informações da investigação depois das prisões da Operação Rodin e não ter falado com ele:

– No dia da operação e em outra oportunidade, estive reunido com a governadora para falar do caso e dizer que nosso trabalho é transparente. Evitamos vazamentos, mas não podemos impedir a imprensa de trabalhar.

Por meio da assessoria, o ministro da Justiça, Tarso Genro, disse que o convite à procuradora foi feito “em termos normais e respeitosos”:

– Não houve e não haverá qualquer intervenção política e no trabalho da corporação. Essa é a orientação que recebi do presidente Lula e que foi cumprida inclusive quando das investigações que envolveram equivocadamente um familiar seu – afirmou.

A PGE informou que não há confirmação sobre se Eliana falará com os federais ou se responderá aos questionamentos por ofício.