Diamantes: grupo do Canadá informou à PF
Afinal, essa própria entidade já fizera várias denúncias a respeito à PF nos últimos anos. A princípio surgiram providências. Segundo a PAC, no dia 4 de agosto de 2001 agentes federais brasileiros chegaram a invadir uma fortaleza de um dos maiores exportadores de diamantes da Guiana, em Boa Vista, e confiscaram o equivalente a US$ 2 milhões em diamantes brutos inclusive um de 42,26 quilates que estavam sendo negociados ilegalmente. Nos últimos anos, porém, a vigilância teria sido afrouxada.
Em abril do ano passado, por exemplo, a PAC emitiu um informe dizendo que a fronteira do Brasil com a Guiana estava praticamente aberta. No lado brasileiro há um posto de fronteira com um portão na estrada que leva ao rio que separa os dois países, mas os agentes da Polícia Federal que ali trabalham não inspecionam regularmente os veículos. Ali supõese que pessoas que estejam saindo do Brasil devem se apresentar voluntariamente para inspeção. As que não fazem isso, não são revistadas , diz o documento.
Ao reagir à reportagem publicada ontem no GLOBO sobre o mercado negro de diamantes naquela região, o superintendente da PF em Roraima, Cláudio Lima de Souza, disse que ficara surpreso com a informação de que Boa Vista se tornou num eixo do contrabando, e reclamou do fato de essa informação ter chegado primeiro à imprensa. Ele queixou-se, ainda, de que as autoridades americanas que investigam a possibilidade de terroristas estarem se financiando através do mercado negro de diamantes deveriam repassar os dados à PF.
Por sua vez, o coordenador de Operações Especiais de Fronteira, da PF, Mauro Spósito, também disse desconhecer a existência de atividades ilegais naquela área.
Para ele, o problema é da Venezuela, pois as vendas ilícitas seriam feitas em seu território.
No entanto, estudos realizados pela PAC, sediada em Ottawa, no Canadá, mostram que Boa Vista seria o principal entreposto desse contrabando na região.
Mais da metade dos diamantes com origem ilegal
A capital da Roraima teria se tornado o eixo da tríplice fronteira que existe ali, unindo dois pólos: Santa Elena de Uairén, na Venezuela, e Georgetown, na Guiana.
Vinte por cento dos diamantes garimpados na Guiana são contrabandeados para o Brasil, onde são selecionados e classificados, e misturados com diamantes que vêm da Venezuela. Em seguida, eles são levados de volta à Guiana, junto com os venezuelanos, para a emissão de Certificados Kimberley (certificados de origem), evadindo os controles dos três países e sem pagar royalties , diz um dos trechos de uma investigação da PAC.
Segundo especialistas da entidade, 50% da produção brasileira de diamantes são provenientes de fontes fraudulentas ou altamente suspeitas; e de cada dois certificados brasileiros Kimberley, um provavelmente é falso.
Metade da exportação de diamantes do país seria feita por fraudadores, foragidos e fantasmas.