Dossiê: formatado por funcionária da Casa Civil

23 de maio de 2008 11:34

Conhecida como Marisol, ela é a diretora de Recursos Logísticos e chefe de gabinete de Erenice Guerra, a secretária-executiva e principal assessora da ministra Dilma Rousseff.

O documento foi criado no sistema de computadores do Palácio do Planalto já com as características que a própria ministra havia apontado como fora do padrão do sistema oficial de despesas: a edição sem ordem cronológica, a organização em colunas e os comentários com viés político. A coluna “observações”, apontada por Dilma como indício de que o documento revelado em março pela imprensa podia ser uma montagem, existia desde a primeira versão do arquivo.

Segundo a Folha apurou, a Polícia Federal deverá concluir que houve atropelo às normas da administração pública na confecção da planilha com gastos exóticos de Fernando Henrique, Ruth Cardoso e ex-ministros.

Seguindo-se as regras internas da Casa Civil, um levantamento desse tipo deveria ter sido feito exclusivamente pela diretoria de Orçamento (de Gilton Saback), e não pela diretoria de Logística (de Marisol) e pela secretaria de Administração (de Norberto Temóteo).

Servidores de diferentes áreas da Casa Civil, em depoimentos à PF lidos a integrantes da CPI dos Cartões, disseram que, a mando de Temóteo, Marisol requereu ao arquivo os processos relacionados a despesas do governo FHC.

Coordenadora de uma força-tarefa de dez funcionários, Marisol foi encarregada de definir o formato da planilha a fim de confrontar os gastos de FHC com os do governo Lula, bem como fechar sua versão final.

Conforme os servidores, a motivação foi responder a uma demanda da CPI dos Cartões, que na ocasião nem sequer havia sido instalada. O objetivo era buscar informações similares aos gastos do governo Lula com cartões corporativos divulgados pela imprensa. Daí a ênfase em artigos ditos de luxo e bebidas alcoólicas.

De acordo com os depoimentos prestados à PF e relatados à CPI, a equipe inseriu pouco a pouco os dados na planilha, alimentando todas as suas linhas e colunas paulatinamente.

O dossiê foi vazado em 20 de fevereiro por José Aparecido Nunes Pires, chefe de Controle Interno, em e-mail endereçado ao gabinete do senador Álvaro Dias (PSDB-PR) -segundo ele, “por descuido”. Aparecido declarou à CPI nesta semana que recebeu o documento “pronto” de funcionário que ele havia cedido a Temóteo.

Até o momento, Aparecido é o único indiciado da investigação. Foi acusado pela PF de ter praticado o crime de violação de sigilo funcional. Significa dizer que ele não poderia ter repassado a nenhuma pessoa dados aos quais teve acesso por conta do cargo que ocupa, independentemente de as informações terem caráter sigiloso.

A Casa Civil disse que Marisol não quer se pronunciar sobre o assunto. Há mais de um mês, a Folha reitera pedidos de entrevista com a diretora e com outros servidores dos ministérios envolvidos na produção do dossiê.