Empresário da noite e criador de galos

13 de setembro de 2007 11:17

O casamento agitava os colunistas sociais de jornais regionais, mas a participação de Fracalossi na vida social do Vale do Araranguá não se resumia ao aguardado casamento. Nos último três anos, ele se transformou em celebridade local.

Desde 2004, quando instalou o Clube Sapiranga numa área rural de Araranguá (SC), às margens da SC-449, no limite com o município de Meleiro, Fracalossi passou a promover os principais shows artísticos do sul do Estado. No local, com uma área ao ar livre do tamanho de três campos de futebol e um salão climatizado, Fracalossi comandava o escritório com uma dezena de funcionários.

O empresário não media esforços para contratar os artistas com cachês de até R$ 200 mil por apresentação. Cantores como Bruno & Marrone, Zezé di Camargo e Luciano, Ivete Sangalo, e as bandas Babado Novo e J Quest foram algumas das atrações entre 2004 e 2007.

Mas a prova da capacidade do empresário em contratar grandes shows foi a inclusão do Clube Sapiranga na turnê dos mexicanos do RBD, em maio. O espetáculo de nível internacional e único em Santa Catarina atraiu cerca de 10 mil pessoas, um público abaixo da expectativa inicial, que era da lotação do espaço para 30 mil pessoas. E foi esse tipo de distorção que despertou a atenção da PF para os negócios de Fracalossi, também dono de uma lotérica em sociedade com Luís Odil Fernandes, preso ontem.

Em uma casa no bairro Restinga Velha, em Porto Alegre, a PF apreendeu galos pertencentes ao empresário. O rinhadeiro montado por Fracalossi era seu hobby. O rinhadeiro ficava na maior casa de uma vila situada numa travessa da Avenida Costa Gama. Mais de 200 galos estavam presos em gaiolas empoleiradas. A residência ainda acomodava malas de couro feitas especialmente para o transporte aéreo das aves em seus deslocamentos para as disputas.

Conforme os policiais, Fracalossi é um dos maiores galistas do país. Aposta em rinhas inclusive no Exterior, em países como Paraguai e Bolívia, de onde a quadrilha trazia a droga.

( cristiano.dalcin@diario.com.br )

Uma investigação cuidadosa
Em outubro de 2006, a Polícia Federal (PF) começa a investigar uma rota que abastecia a Serra com cocaína boliviana. Patrulheiros da Polícia Rodoviária Federal (PRF) haviam prendido um homem com seis quilos da droga. Ele foi detido durante a madrugada de 12 de setembro na BR-116.
A partir daí, a PF começou a monitorar todos os contatos dos dois primeiros presos para mapear a rede criminosa, o que resultou em novas prisões e apreensões de drogas provenientes da Bolívia e que chegavam ao Estado. Essas ações resultaram na prisão, em 28 de fevereiro passado, de Cléverson de Freitas, 29 anos. Ele seria o gerente do esquema de distribuição de drogas na Serra.
Com a prisão de Cléverson, a PF identificou a estrutura da quadrilha comandada do Ademar Fracalossi, o Batista, apontado como o chefe do bando. As investigações se iniciaram quando outro homem assumiu a função de Cléverson Freitas na quadrilha e passou a administrar a distribuição de cocaína na Serra.
Durante seis meses, os agentes da Polícia Federal identificaram e monitoraram a rede de compra e distribuição da quadrilha. A polícia conseguiu precisar que mulas (pessoas que transportam a droga) bolivianas faziam viagens constantes de Santa Cruz de la Sierra para trazer drogas ao Rio Grande do Sul. A cocaína, com alto grau de pureza, passava por Uruguaiana e São Borja.