Esbanjando dinheiro

29 de janeiro de 2008 11:26

A prosperidade cearense está sediada na Secretaria de Segurança Pública, tocada desde o início do atual governo pelo delegado aposentado da Polícia Federal Roberto das Chagas Monteiro.

No final do ano passado, em novembro, a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Ceará adquiriu e começou a receber os primeiros lotes das 428 novas viaturas policiais que foram exibidas na propaganda com ostentação e estardalhaço pelo governo do Estado. Os carros fazem parte de um programa de segurança pública batizado de “ronda do quarteirão”, que está sendo implementado pelo governo como promessa da campanha eleitoral de 2006, onde a segurança pública e a violência no Estado deram o tom dos debates políticos.

Carros chiques
Os automóveis comprados para fazer patrulha policial rotineira nas ruas das cidades cearenses são da marca Toyota, modelo Hilux SW4, com todos os acessórios sonhados por um consumidor de gosto muito refinado. As caminhonetes vieram super-equipadas com direito a câmbio automático, rodas com aros de liga leve, bancos revestidos em couro, tração nas quatro rodas e ar-condicionado entre outros requintes dos modelos de carros classificados como tops de linha. Cada uma das caminhonetes custa no mercado revendedor perto de R$ 150 mil. O gasto total foi de R$ 64,2 milhões.

Entre os chamados veículos utilitários esportivos disponíveis no mercado brasileiro, a Toyota Hilux SW4, importada da Argentina – país onde o secretário de segurança Roberto das Chagas foi adido da Polícia Federal – é mais cara do que utilitários similares de fabricação nacional como, por exemplo, o modelo Blazer da Chevrolet, que custa cerca de R$ 50 mil a menos a unidade. O excesso de especificações no processo de licitação levantaram suspeitas da existência de direcionamento na escolha do tipo de automóvel que venceria.

Indicadores sociais ruins
De acordo com os levantamentos de indicadores sociais no Ceará feitos nos últimos anos pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Estado tem 56% da população se equilibrando na frágil linha da pobreza (ganhos mensais de até R$ 154) e 30% do total da população – perto de 3 milhões de pessoas – sobrevivendo abaixo da linha da miséria, o que equivale a um ganho mensal inferior a R$ 80. Ainda segundo os levantamentos sócio-econômicos feitos pelos institutos IBGE e FGV ao longos dos últimos anos sobre as carências do Ceará, seria necessário um investimento imediato de R$ 63 milhões – R$ 1,2 milhão a menos que a frota de caminhonetes Hilux – para começar a reverter o quadro de miséria que perdura no Estado e atinge perto de 4,5 milhões de cearenses.

Sem explicação
Desde a sexta-feira, a reportagem do Jornal do Brasil está solicitando à Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Ceará informações detalhadas da licitação para esclarecer os critérios da escolha do modelo, os itens e acessórios exigidos nos carros além de outras questões. Entre as perguntas enviadas à secretaria estão as previsões de gasto com a manutenção e reposição de peças, já que o carro é importado. A reportagem também solicitou ao governo cearense cópia do edital da licitação onde saiu vencedora a Toyota. O coronel Brasil, da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Ceará, responsável pelo processo de compra das viaturas, ficou encarregado de retornar as ligações e responder o e-mail enviado pela reportagem, mas até o fechamento desta edição não respondeu às ligações e nem as indagações encaminhadas por meio de sua assessoria de imprensa.