Esquema teve fluxo milionário de cheques

2 de junho de 2014 11:08

Mais de R$ 184 milhões foram movimentados em menos de três meses em duas contas correntes de uma das principais factorings investigadas pela operação Ararath da Polícia Federal (PF) – que apura esquema de lavagem de dinheiro, peculato e corrupção com fins político-partidários envolvendo os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário no Estado do Mato Grosso, segundo o inquérito.

É o que demonstram extratos bancários da empresa Globo Fomento Ltda que os investigadores apontam como fachada para os interesses da organização criminosa que – afirmam PF e Procuradoria da República – instalou-se na administração pública do Estado.

 

De acordo com os documentos obtidos pelo Valor, o dinheiro foi movimentado por meio de depósitos em cheques realizados entre 1º de julho de 2008 e 30 de setembro de 2008 em duas contas correntes de uma agência bancária do Bradesco em Várzea Grande (MT).

 

O maior fluxo financeiro foi o da conta nº 645958. Totalizou R$ 104 milhões no período. Pela conta corrente de nº 654000 passaram R$ 79 milhões no mesmo espaço de tempo.

 

As contas correntes pessoa jurídica têm como representante legal Gércio Marcelino Mendonça Júnior, que segundo a polícia é o dono da factoring e da Comercial Amazônia de Petróleo Ltda, outra empresa sob investigação. Ele é o delator do esquema desvelado no Mato Grosso por meio da colaboração premiada.

 

O inquérito policial afirma que as empresas de fachada operavam de acordo com instruções do ex-secretário extraordinário da Copa do Mundo, da Fazenda e da Casa Civil no Mato Grosso, Eder Moraes (PMDB). "Eder Moraes Dias, agindo em seu interesse e no interesse de pessoas do alto escalão do Estado, utilizou-se do esquema de operação ilegal de instituição financeira posto em prática por Gércio Marcelino Mendonça Júnior", escreveu em relatório policial o delegado Wilson Rodrigues de Souza Filho. "Perante o qual obteve, mediante empréstimos ilegais, recursos em cifras milionárias para serem empregados em fins diversos, incluindo o financiamento de campanhas eleitorais", afirma o delegado.

 

Além da documentação apreendida em buscas e interceptações telefônicas, no inquérito o delegado garante ter "indícios robustos" de participação do governador do Estado, Silval Barbosa (PMDB), do ex-governador e atual senador licenciado pelo PR Blairo Maggi, além de um magistrado, promotores de Justiça e integrante de corte de contas.

 

Entre as provas reunidas nos autos estão notas promissórias entregues pelo delator. Uma delas no valor de R$ 3.8 milhões emitida pelo prefeito de Cuiabá, Mauro Mendes (PSB) e outra de R$ 702 mil tendo como emitente Mendonça Júnior e o governador Silval Barbosa como avalista, afirma o delegado Souza Filho no inquérito.

 

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deverá propor a criação de uma força-tarefa para reforçar e agilizar a atuação do MPF na investigação em curso no Mato Grosso.

 

A operação Ararath gerou o inquérito nº 3842 que tramita sob segredo de Justiça no Supremo Tribunal Federal (STF), porque um dos suspeitos é o senador Maggi, que tem privilégio de foro por deter mandato parlamentar.

 

A investigação é conduzida em três frentes: pela Polícia Federal, pela Procuradoria da República no Mato Grosso e pela Procuradoria-Geral da República em Brasília.