Executado líder dos sem-terra

13 de dezembro de 2007 10:39

Calazans foi assassinado na noite de terça-feira em Pingo d”Água, a 320 quilômetros de Belo Horizonte. Ele era presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais da cidade e conselheiro do Parque Estadual do Rio Doce. O prefeito de Pingo d”Água, Breno Silveira de Moraes (PDT), decretou luto oficial três dias. Ontem, o governador Aécio Neves determinou rigor na apuração do crime. O governo do estado enviou à cidade uma equipe especializada da Polícia Civil para ajudar nas investigações.
Policiais civis e militares de Manhuaçu, Caratinga e Pingo dÁgua montaram uma força-tarefa para localizar o assassino. Todas as estradas da região foram bloqueadas. A PM já descartou a hipótese de disputa entre os assentados. Amigos do assentamento informaram que Calazans sempre recebia ameaças de morte. “Ele defendia os nossos interesses e por isso não podia agradar a todos”, disse o pequeno produtor rural José Francisco Silva, de 56 anos.
De acordo com a PM, Calazans foi assassinado por volta das 21h15. Ele estava no quintal de casa com a mulher, um filho de 6 anos e a sogra, quando foi atingido por um tiro na nuca. Os familiares não conseguiram identificar o assassino. “Na hora, pensei que o barulho era um foguete. Cheguei a brincar com o Calazans, pensando que ele tinha tomado um susto, mas logo o pescoço dele caiu de lado e vi que era um tiro. Assustada e com medo, corri para dentro de casa com meu filho e minha mãe, temendo também ser atingida”, contou a mulher do líder do assentamento, Maria Aparecida da Silva Calazans, de 35 anos, em depoimento à Polícia Civil. Ela negou que o marido tivesse desavenças com algum fazendeiro. “Ele comandava todo o processo de liberação de terra no Incra para o pessoal da região. Não tinha conhecimento de inimigos dele, pelo contrário estava bastante feliz”, afirmou.
Depois do disparo, Calazans foi socorrido por uma equipe da PM de Pingo dÁgua e levado para o Hospital Márcio Cunha, em Ipatinga, onde já chegou morto. Além da mulher, outros familiares e moradores do assentamento foram ouvidos pela polícia. O corpo do presidente do sindicato foi liberado pelo Instituto Médico-Legal de Ipatinga no fim da manhã para o velório, na casa de Calazans, no assentamento Chico Mendes.
O crime mudou a rotina da pequena e pacata Pingo dÁgua, que tem pouco mais de 4 mil habitantes. Com medo, alguns moradores preferiram não comentar o assunto. Um comerciante, que não quis se identificar, disse que teme a morte de outros moradores do assentamento. “Tem muita gente aqui dona de terra que não gosta de integrantes do MST”, alertou.
Representantes da Pastoral da Terra também foram à cidade acompanhar as investigações e auxiliar os familiares da vítima. A coordenadora estadual da entidade, Lucimere da Silva, informou que Calazans sempre esteve na frente na luta por terra na região. “Não podemos julgar e falar quem poderia ter cometido o crime. Como coordenador, ele carregava nas costas todos os problemas dos assentados”, acrescentou.
O capitão Sérgio Renato disse que o cerco aos autores foi montado logo depois do crime. “A idéia é buscar o máximo de informação sobre o crime. A operação não tem hora para terminar”, explicou. O militar afirmou que somente do 11º Batalhão de Manhuaçu foram enviados 25 policiais e seis viaturas. Algumas testemunhas informaram que o criminoso teria fugido em uma moto, logo depois dos disparos. A Polícia Civil informou que a arma usada no crime foi uma chumbeira.