Executivos de bancos ofereciam esquema a empresários brasileiros

8 de novembro de 2007 11:09

Interceptações telefônicas feitas com autorização da Justiça Federal flagraram conversas entre Claudine e o executivo Luc Mark Depensaz, representante do banco suíço UBS, em que este contava à doleira que ia lhe enviar clientes que precisavam enviar divisas para o exterior. A ligação de Claudine com o UBS é evidenciada, segundo o Ministério Público Federal (MPF), pelo fato de ela ter conseguido empregar Daniel Spiero, seu filho, no banco. Daniel está foragido.

Depensaz foi preso anteontem em um hotel no Itaim Bibi, em São Paulo. Ele e outros executivos do UBS, como o foragido Marc Henri Dizerens, segundo as investigações, passavam temporadas no País captando clientes. Segundo a procuradora da República Karen Louise Jeanette Kahn, é muito provável que a direção das instituições investigadas no caso – UBS e Clariden Leu, da Suíça, e AIG, dos Estados Unidos – incentivassem suas práticas no Brasil.

As instituições financeiras suíças aproveitam brechas em nossa legislação e tratam o Brasil como um quintal florido, um país emergente que vende informalidade e impunidade e é ótimo para a prática da evasão.

Exemplo disso, segundo a PF, foi a reação de Depensaz ao ser preso. Ele desdenhou da ação policial e disse: Não vou ficar preso. Quem tem dinheiro neste país não fica preso. A PF de São Paulo fez constar a frase no inquérito sobre o caso. É interessante para a denúncia incluir essa declaração, mas não como revide, mesmo porque há provas de que o envolvimento dele era muito grande e justificam a manutenção da prisão , disse Kharen.

A apuração, segundo a PF, demonstrou que o esquema usava contas bancárias de instituições financeiras nacionais por onde trafegavam dinheiro lícito e ilícito, daí a dificuldade para identificar a evasão e a lavagem. Dos 21 acusados que tiveram a prisão decretada pelo juiz Fausto Martins de Sanctis, da 6ª Vara Criminal Federal de São Paulo, 19 foram presos pela PF – outro foi detido em flagrante em Salvador, numa das 41 buscas da operação.

A PF e o MPF acharam indícios de que a rede de doleiros controlada por Claudine também era usada para pagamentos de importações de produtos chineses e americanos feitas por empresários brasileiros com valores subfaturados. O subfaturamento servia para sonegar imposto de importação. A diferença entre o valor declarado à alfândega e o valor real do produto era pago aos fornecedores chineses por meio de remessas feitas por Claudine por meio do dólar cabo.

PROTESTO

Advogado de um dos presos na operação, o criminalista Alberto Toron protestou ontem contra o fato de só 24 horas após a operação os advogados terem obtido acesso aos autos e, assim mesmo, apenas parcial. Isso é gravíssimo. O criminalista Antônio Claudio Mariz de Oliveira, que defende outro acusado, disse que aguardará o término da prisão temporária para decidir as medidas que pretende tomar.