Fantasmas blindavam fraudes da Cisco

19 de outubro de 2007 10:42

O esquema de fraudes e sonegação de impostos que seria mantido pela Cisco Systems usou pelo menos uma dezena de empresas fantasmas no Brasil e nos Estados Unidos para esconder a multinacional, blindando-a nas investigações nos dois países.

A maioria das empresas fantasmas brasileiras tinha sede em São Paulo e em Barueri, na Grande São Paulo. A função delas, segundo apurou o Ministério Público e a Polícia Federal, consistia em comprar da Cisco nos EUA e vender os produtos para a Mude Comércio e Serviços Ltda no Brasil, simulando operações comerciais domésticas.

Entre os presos estão 17 executivos e funcionários da Mude Comércio e Serviço, inclusive o sócio-presidente, Moacir Álvaro Sampaio.

Advogados dos diretores da Cisco e da Mude entraram com dois pedidos de revogação das prisões temporárias e com um pedido de habeas-corpus para libertar os acusados detidos. O juiz Alexandre Cassetari, a 4ª Vara criminal Federal de São Paulo, deve decidir só após receber o relatório da PF. Já o desembargador Nelton dos Santos, do Tribunal Regional Federal da 3º Região, não havia se manifestado sobre o habeas-corpus até ontem à noite.

O advogado Arnaldo Malheiros Filho, que defende Pedro Ripper, o presidente da Cisco no Brasil, e outros dois diretores, disse que, após as buscas, as prisões não são mais necessárias. “A maior prova é que meus clientes foram encontrados pela polícia em casa.” O mesmo argumento foi usado pelo escritório do advogado Alberto Zacharias Toron, que representa uma vice-presidente da Cisco Systems e um dos sócios da Mude. Mas o Ministério Público Federal manifestou-se contra os pedidos.

A defesa quer soltar ainda Marco Antonio Martins de Sena, diretor da Cisco preso num hotel no Rio.

Um único acusado permanece foragido. Trata-se do consultor tributário Ernani Bertino Maciel, que, segundo o advogado Alexandre Ribeiro, está de férias no exterior.

Silêncio – Pedro Ripper e o ex-presidente da Cisco, Carlos Roberto Carnevali, usaram o direito constitucional de não responderam às perguntas, alegando que só falarão em juízo. Por orientação da empresa, outros dois executivos presos também ficaram em silêncio. Mas outros membros da quadrilha, entre eles seis auditores-fiscais da Receita Federal, confirmaram o esquema, informaram os investigadores.

Nos próximos dias, a perícia e a inteligência da PF vão se debruçar sobre a montanha de papéis, computadores, CDs, livros contábeis e documentos apreendidos em 93 mandados de buscas. O material, que ocupa 60 metros quadrados de uma sala na Superintendência da PF, está sendo selecionado e catalogado para análise, que será cruzada com os depoimentos e outras provas.

À medida que vão sendo levantados, os dados estão sendo repassados à polícia fazendária dos Estados Unidos. Segundo a PF, ainda devem ser presos nos próximos dias mais cinco brasileiros que vivem nos EUA e executivos americanos ligados ao esquema. Nessa segunda fase, a Receita Federal também vai investigar até que ponto os clientes da Cisco, que compravam redes e serviços de informática muito abaixo do custo de mercado, estariam envolvidos.

A Cisco é líder mundial no segmento de serviços e equipamentos de alta tecnologia para redes corporativas. ( AE )