Força Nacional vai ao entorno do DF ocupar “terra de ninguém”

19 de outubro de 2007 09:00

Os 130 homens da Força Nacional de Segurança Pública que começam hoje a ocupar a região do Entorno de Brasília vão atuar em uma “terra de ninguém”. A menos de 30 km da capital do país, a área apresenta índices de violência comparáveis aos da Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, e foi alvo de um relatório da ONU (Organização das Nações Unidas) que descreve a criminalidade local como sendo “de proporções críticas”.

O envio da Força Nacional foi acelerado depois que o repórter Amaury Ribeiro Júnior, do jornal “O Estado de Minas”, foi baleado enquanto trabalhava em Cidade Ocidental, a 50 km de Brasília. Dez dias após o repórter ter sido ferido, a Polícia Civil de Goiás concluiu, sem ter ouvido a vítima, que o episódio foi só uma tentativa de roubo. Quatro pessoas foram presas. O inquérito da Polícia Federal, porém, não foi encerrado.

Com 55 mil km2 – área equivalente ao Estado da Paraíba- e 2,7 milhões de habitantes, o entorno é fragmentado em 19 municípios goianos, três mineiros e áreas do Distrito Federal. Não recebe, porém, tratamento de Estado nem de região metropolitana nem de cidade.

“No entorno faltam políticas públicas, água, esgoto, creche, educação, emprego e segurança. Falta tudo. Falta Estado naquela área”, disse o secretário de Segurança Pública do DF, general Cândido Vargas, ao admitir a omissão histórica de diferentes governos.

Até o ano passado existia, no DF, uma secretaria de Desenvolvimento do Entorno. Ao assumir o governo, José Roberto Arruda (DEM) reduziu o órgão a uma subsecretaria. Antes com 180 funcionários, a estrutura passou a ter 15.

“Aqui, o crescimento da criminalidade se dá mais vertiginosamente pela absoluta desintegração das ações entre Goiás e DF. Os governos disputam quem paga a conta, quem é responsável pelo quê”, afirmou Roberto Aguiar, ex-secretário de Segurança Pública do DF e do Rio de Janeiro.

Estudo feito em julho deste ano pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) aponta a presença de rede de drogas, gangues e tráfico de armas.

“A gente pode falar de omissão, de descaso e de uma população sem preparo para exigir seus direitos”, afirmou Maristela Baione, coordenadora de Políticas Sociais do Pnud. Para o sociólogo da UnB (Universidade de Brasília) Antônio Flávio Testa, “Brasília é o centro irradiador desse processo”. “Consome a mão-de-obra e as drogas, enquanto o entorno é a base logística das operações.”

Até mesmo o IBGE tem dificuldade em levantar dados da região. As cidades-satélites do DF não entram nos estudos sócio-econômicos do IBGE porque, tecnicamente, não são municípios, mas “regiões administrativas”. Das 22 localidades restantes, apenas três têm mais de 100 mil habitantes e, portanto, se qualificam para serem analisadas pelo IBGE e pela Secretaria Nacional de Segurança Pública.

Segundo o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, há um mês o presidente do IBGE, Eduardo Nunes, reclamou que o órgão tem dificuldades para atualizar o Censo. Por cinco dias, segundo Bernardo, os pesquisadores tiveram problemas para localizar endereços por falta de placas, número das quadras, ruas e casas. “À noite, o problema foi a falta de condições de segurança.”