Funcionários de aeroporto de SP trocavam bagagens para traficar cocaína para Europa
A Polícia Federal revelou um esquema de tráfico internacional de drogas que acontecia dentro do Aeroporto de Guarulhos, na Grande São Paulo, mostrou com exclusividade o Fantástico. No dia 7 de junho, funcionários do aeroporto trocaram o destino de duas malas, cada uma com 30 quilos de cocaína pura. Elas seriam enviadas para Ribeirão Preto, no interior do estado, e foram para Lisboa, em Portugal.
Os homens que despacharam as malas para Ribeirão Preto, José Veríssimo Machado e Douglas de Oliveira Silva, escolheram um voo nacional porque nesse caso as malas não passam pela inspeção de segurança, que só é obrigatória para as viagens internacionais.
O aeroporto é controlado por duas mil câmeras de segurança, mas em um ponto ao lado pista não há monitoramento. E era neste ponto que os funcionários a serviço do tráfico faziam o trabalho criminoso: a serviço dos traficantes, passavam as malas do setor doméstico para o internacional.
Onze pessoas, incluindo funcionários do aeroporto com acesso à bagagem e à pista, tinham a missão de despachar as duas malas com drogas. Segundo o chefe da delegacia da PF do aeroporto, Marcelo Ivo de Carvalho, a carga valia mais de R$10 milhões.
Em 2016, a PF fez uma operação semelhante e prendeu 15 funcionários de empresas terceirizadas pelo aeroporto que estavam envolvidos com o tráfico e apreendeu mais 550 quilos de cocaína. Desde então, a escuta de celulares de suspeitos revelou outro caminho do tráfico internacional e esta nova quadrilha.
Com base nessas informações, os policiais federais chegaram até um centro comercial em Guarulhos, a 8 km do aeroporto. Neste centro, traficantes e funcionários se reuniam para finalizar os detalhes do embarque das drogas.
Os chefes da quadrilha pagaram adiantado uma quantia de 100 vezes os salários dos funcionários. “Intermediários se aproximavam dos funcionários que estavam dispostos a facilitar o tráfico mediante pagamento”, disse o delegado.
A polícia identificou que um dos chefes da quadrilha era Marcos de França. Ele foi um dos criminosos que planejou e participou de um dos maiores furtos da história do país: a quadrilha dele levou mais de R$160 milhões de reais do Banco Central de Fortaleza em 2005. França foi preso com R$12 milhões, foi condenado, passou nove anos na cadeia e estava em liberdade desde 2013.
Câmeras percorrem o caminho das malas
Com a descoberta da PF, câmeras percorreram o destino das malas até Portugal e a chegada dos homens a Ribeirão Preto. Imagens mostram eles passando direto pela esteira de bagagens.
As malas foram apreendidas ao chegar em Lisboa, e escutas mostram a conversa do criminoso Matias dos Santos com a esposa:
M: A casa caiu! Cê ta ouvindo…. Cê ta ouvindo…
Prisões e foragidos
No aeroporto em São Paulo, um funcionário foi preso. Outros dois foram presos em casa, e um quarto ao tentar fugir. Com eles, a PF encontrou mais de R$ 500 mil, que era o pagamento do suborno.
Marcos França foi preso na rodoviária de São Paulo. Ele ia fugir de ônibus, com 7 mil euros, deixando para trás seus três carros importados, avaliados em mais de R$ 600 mil. A defesa dele nega as acusações. Consultadas, as defesas dos funcionários do aeroporto Ronaldo de Oliveira, Alexandre Rorigues Borges e Matias Júnior Bispo dos Santos também negam as acusações. O advogado de Ricardo Braga da Silva, o quarto funcionário, não retornou à reportagem.
A Polícia Federal busca agora pelo sócio de França e também um dos donos da droga: Átila Carlai da Luz. Estão foragidos Gilmar Antônio Monteiro, Douglas Martins de Oliveira e Anderson Brito da Silva, funcionários do aeroporto. A polícia também está atrás dos passageiros traficantes que foram para Ribeirão Preto: José Veríssimo e Douglas. Em Portugal, ninguém foi preso.
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