Governo cobra R$ 1 bi levado por Cacciola

25 de setembro de 2007 10:40

– O caminho é o bloqueio dos recursos que foram encontrados em nome dele em outros países. Esse dinheiro pode ser rastreado por mecanismos legais. Os tratados de cooperação internacional permitem que isso seja feito – disse Tuma Júnior, que acionou o Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI) para as providências que devem ser adotadas. – Nosso objetivo é buscar o dinheiro que saiu ilegalmente do Brasil, bloquear e resgatar.

Ontem, ele reuniu-se em São Paulo, numa visita protocolar, com o juiz Fausto Martin Sanctis, da 6ª Vara Federal, especialista no combate à lavagem de dinheiro e considerado um dos magistrados mais duros do país contra os criminosos de colarinho branco. O delegado também busca apoio para a criação de legislação mais rigorosa e adequada à realidade internacional na busca de dinheiro da corrupção e do crime organizado desviado para o exterior. Por mais paradoxal que pareça, o Brasil tem conseguido mais sucesso no bloqueio de bens ilícitos em paraísos fiscais onde brasileiros escondem o dinheiro sujo e não nos países de regime financeiro convencional.

Preso preventivamente no Principado de Mônaco desde o último dia 15 de setembro, o ex-banqueiro Salvatore Cacciola está condenado no Brasil a 13 anos de reclusão em regime fechado por ter orquestrado, com a conivência da alta direção do Banco Central, um dos maiores golpes contra o erário durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1999, na gestão do ex-ministro Pedro Malan no Ministério da Fazenda. Segundo as investigações da Polícia Federal, confirmada pela sentença da juíza Ana Paula Carvalho, Cacciola teria recebido informações privilegiadas para comprar dólares e, com isso, evitar que seu banco quebrasse por má gestão. A direção do Banco Central tentou explicar, na época, que o socorro teve a finalidade de evitar que, por meio do chamado risco sistêmico, ocorresse uma quebradeira geral no sistema financeiro nacional – argumento rechaçado pelas fontes mais especializadas no assunto consultadas pela Justiça Federal.

Junto com Cacciola foram condenados o ex-presidente do Banco Central Francisco Lopes, os ex-diretores Cláudio Mauch, de Fiscalização, Demósthenes Madureira de Pinho Neto – todos eles a 10 anos de reclusão, também em regime fechado – e a ex-chefe de fiscalização Tereza Grossi, que pegou seis anos em regime semi-aberto. Os brasileiros respondem em liberdade até a conclusão do processo porque, ao contrário de Cacciola, não tentaram obstruir as investigações e nem fugiram. O ex-banqueiro chegou a ser preso em 2000 mas, ao conseguir um habeas corpus, concedido pelo ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), fugiu para a Itália, onde tem cidadania e pode circular livremente. Se for extraditado agora, Cacciola ficará sob a custódia da Polícia Federal, cujo diretor, Luiz Fernando Corrêa, foi quem o prendeu na época. O ex-banqueiro poderá ficar recolhido na Penitenciária Federal de Campo Grande (MS) – a mais provável – ou em Catanduvas (SP).