Grampo legal foi usado para achaque

25 de outubro de 2007 09:55

O esquema foi desvendado por acaso por promotores do Grupo de Atuação Especial Regional para a Prevenção e a Repressão ao Crime Organizado (Gaerco) de Campinas e policiais da Corregedoria da Polícia Civil da cidade. Na ocasião, o Gaerco e a Polícia Federal conduziam uma investigação conjunta sobre o tráfico de drogas na região e desconfiaram que policiais estavam achacando os criminosos.

Em 21 de setembro, um grupo da Corregedoria flagrou a equipe de Pórrio em ação. Sem comunicar as autoridades locais, o que é obrigatório nesse tipo de operação, policiais da Dise de Osasco viajaram até Campinas em busca de José Silas da Silva. A suspeita era de que ele havia recebido de Wagner de Vargas Vieira, o Vavá, traficante de drogas de Osasco, a quantia de R$ 1.800. Dias antes, ao ser preso pelo equipe de Pórrio, Vavá confessou ser traficante, forneceu detalhes sobre fornecedores e clientes e confirmou ter negociado entorpecentes com Silva.

Mesmo diante da confissão, Vavá não foi preso nem indiciado por Pórrio. Pior: as informações fornecidas pelo criminoso serviram apenas para que o delegado arquitetasse uma operação de achaque. O chefe dos investigadores da Dise de Osasco e braço direito de Pórrio, Antonio Cabellero Curci, ficou encarregado de recrutar a equipe. Além dos policiais da Dise, ele pediu apoio de três investigadores do 10º DP de Osasco. Pórrio e Cursi coordenaram a operação a distância.

Logo cedo, um comboio de três viaturas descaracterizadas partiu de Osasco com destino a Campinas. Às 9 horas, os policiais se posicionaram na entrada do bairro Xangrilá, às margens da Rodovia D. Pedro I, onde Silva vive com a família. Com socos e pontapés, o grupo ordenou que ele revelasse o endereço de sua casa. Silva ainda tentou despistar os investigadores. Mas diante das agressões a que ele, sua mulher e sua irmã foram submetidos, resolveu ceder. Na casa dele, os policiais confiscaram um pacote com R$ 34.962,00. O dinheiro, supostamente arrecadado com a venda equipamentos de borracharia, ficou escondido dentro de uma das viaturas.

Também aproveitaram para levar o veículo de Silva, um Gol, e os R$ 5 mil que estavam no banco traseiro. Os investigadores não se deram por satisfeitos. Com Silva algemado, passaram a exigir R$ 200 mil para livrá-lo da acusação de porte ilegal de arma – uma espingarda calibre 28 havia sido encontrada na casa da irmã dele.

Até um eletricista, morador do bairro, acabou sendo alvo dos policiais. Depois de ser submetido a uma sessão de tortura, ele foi obrigado a cavar buracos em torno do terreno, à procura de drogas que pudessem estar enterradas. Nada foi encontrado, exceto três tambores vazios – alguns deles com vestígios de cocaína – e um pacote de 180 gramas de um produto químico.

FLAGRANTE

Quando os investigadores de Osasco foram flagrados por colegas da Corregedoria e promotores de Campinas, comunicaram Pórrio e Cursi, que já seguiam para a cidade. No caminho, o delegado telefonou para seu superior, Emílio Paulo Braga Françolin, notificando informalmente que efetuara uma grande prisão, fruto de uma investigação que tinha até permissão judicial.

No meio da estrada o Pórrio me ligou e disse que estava indo para Campinas , confirmou Françolin. Eu perguntei se tinha alguém preso e ele disse que era o traficante que estava sendo grampeado judicialmente , justificou. Françolin declarou que está absolutamente tranqüilo e não teme ter seu nome envolvido com os eventuais crimes praticados por seus subordinados.

O governador José Serra (PSDB) comentou o caso ontem. Eles já estavam afastados e esse é o nosso trabalho de combater os desvios. Você descobre um problema e pune. O importante é fazer a punição. Pórrio havia sido transferido para a Delegacia do Idoso e estava atualmente de férias.